pichação

Pichação

Os caras entram correndo no conto, fugindo da polícia, tropeçam no parágrafo, esborrachando, as caras, na folha A4:
– Era para pichar rápido! – Ofegante, reclama o fugitivo.
– Mergulhei nos versos da poesia do Geraldo… – Justifica a morosidade, o cúmplice.
– Este foi o último pedido do escritor: desejava ser lembrado pelas suas poesias riscadas nos espaços públicos da cidade…

Os policiais obedecem à lei, coibindo a subversão da ordem, no calçadão de Nova Iguaçu. Afinal, era literatura marginal. Seria uma questão de honra reter os pichadores.

A repressão dobra a esquina, dá meia-volta, o flagrante é inevitável… Do nada, a porta de aço da loja da nossa frente abre… Acionada por Geraldo, cuja astúcia nos livraria dos guardas…

Esperamos um pouco, saímos em retirada. Virei os olhos, olhei atrás, nem sombra de Geraldo… Interroguei o parceiro e descobri que hoje era a missa de sétimo dia dele.

Aquele era o nosso amigo oculto…