Rei nu

Invisível aos olhos

“Ora, um homem quando está nu é igual ao seu semelhante.
(…) O homem nu é o homem real, despido das ilusões separatistas”.
Trecho de “O homem nu”, de Elisa Lucinda, do livro “Parem de falar mal da rotina”.

 

– O Rei está nu!

– Mas, como assim seu insolente, como ousas?!

Pois, foi um balde de água fria naquela dissimulação em que, por falta de criticidade, queriam por que queriam não contrariar Sua Realeza, em sua vaidade. Precisou um menino sem amarras ou papas na língua para quebrar aquela cegueira coletiva.

A sociedade carrega muitos preconceitos e muitas normas de civilidade; condena em prol da moral e bons costumes, mas se vende ou rende a condutas, outras, que não trazem o bem comum, muito menos a procura de um equilíbrio social. Pior: veste-se de arrogância.

E, por isso, o menino com toda sua inocência poderia ter sido julgado e condenado pelo crime de lesa-majestade, por pensar diferente do soberano. Ou exaltado – numa governança mais justa – por sua autenticidade e veracidade em ver o que é mais humano em nós, como a nudez. E assim, também, alertando sobre os reais perigos.

– Sim, sim, o rei está nu! – comentavam as pessoas em torno, as ditas simplórias que não alcançam a clareza de visão que os “mais capacitados” têm, causando um burburinho indesejado aos donos do poder.

Inclusive, a esposa do primeiro-ministro deu uma risadinha, dizendo que o rei rotundo precisava manter um regime. (Tomara não seja o ditatorial). O mendigo com seus farrapos foi o único que quis ser gentil, emprestando-lhes ao rei, mas foi brutalmente afastado. Enquanto isso… os tecelões gozavam do dinheiro extorquido, prontos a pregar outro golpe no primeiro trouxa que cruzasse suas vidas, porque o da roupa invisível aos olhos já estava batido (pelo menos nestas redondezas). Então, para quê correr este risco?

Eis um fato: igual a eles existem vários que conseguem enxergar muito bem as mais íntimas fraquezas do ser humano e então, com crueza, despem-lhe a alma.