Na poeira das ruas

                                                                                                              “…Eu sou marinheiro, navego com a lua
Meu mar é a rua…”

                                                                                      (Do fundo do meu coração – Composição: Julio Barroso / Taciana Barros)

– A rua é uma escola. Veja só aquelas crianças. Se projetam como lanças. Adultos apressados, andam como se acossados. E os mais velhos, referências. Muitas histórias de sobrevivência.

Enquanto a criança brinca o “rá, ré, rí, ró, rua”, quem está empregado não quer saber de ir para o olho da rua – nem de brincadeira. É… a coisa tá feia! E se isso acontece ou outra tristeza ou agrura, o novo endereço é a rua da amargura.

***

Assim, Simplício ia perfilando seus pensamentos sobre a rua ser escola, enquanto vez por outra recebia uma esmola. Parecia ter tido casa e passado abastados, mas no presente, como se lhe bastasse, a rua era sua casa. (E cá estou, impregnado de seus trocadilhos ou jogos de palavras).

Às vezes, a ironia é o destino.

Teve um dia que desceu de um “carrão”, naquela mesma rua, um homem todo bem apresentado perguntando aos comerciantes locais e também ao dono da banca de jornais, se viram alguém “assim ou assado”. O homem todo empertigado procurava por Simplício, ao que pareceu.

Corria pelas calçadas histórias sobre riqueza e vida equilibrada. Disseram de tudo e até que era homem do mar. Se assim, imagino que seus pensamentos foram vagas que devem ter-lhe precipitado à rotas distanciadas, fora do mapa.

O que será que lhe faltou? Que lugar ele ocupava naquele mundo que supostamente lhe daria segurança o qual ele abriu mão em busca de um espaço que lhe desse liberdade?

Simplício desapareceu das redondezas. Até hoje não se sabe, se enfim, com todas as contraditoriedades, ele foi encontrado ou se perdeu (como bem sabia fazer). Sumiu na poeira das ruas.