fantasma

Mais uma história pra boi dormir

Ouço vozes… Pode até parecer que estou plagiando aquele filme famoso; talvez fosse mais para uma espécie de paródia sobre o sexto sentido. O fato é que ouço vozes e vejo sombras furtivas, de vultos sorrateiros e sinistros como os fantasmas costumam ser. Acho até que estou ficando paranoico… Querem mesmo que eu acredite em alma de outro mundo. Sei que almas penadas não existem, nem deste nem de outros mundos, só sei que eles estão por aí a espreita. Já até me esbarrei com um deles, usava uma máscara grosseira feita de pano de saco de estopa com as pontas amarradas feito orelhas. Era um lençol negro e a cabeça bege-caramelo com os furinhos nos olhos e na boca, troço bem rústico e aparência entojada, lembrando aqueles filmes americanos tipos nerds, trash, classe c… ou coisa que valha… quando tentei puxar com mais força, a cabeça escorregara das minhas mãos e o sujeito – mais gente do que espírito – soltara um berrinho estridente do tipo hard-rock; um grito bem feminino, eu diria; e cri fosse uma garota ali debaixo daquela máscara, pois tinha um jeito frágil de se pegar e aquela espécie de manta negra inteiriça a lhe cobrir todo o corpo Fiquei lá abobalhado segurando aquele saco na mão, enquanto o bicho me escapulia. Mas, só sei que a figura me escapulira como se escorresse toda molenga, emitindo aqueles gritinhos agudos que, de certa forma, confundiram os meus instintos de sobrevivência, pois afrouxei deliberadamente a pegada deixando-a livre para correr. Bem, na verdade, até passei a me divertir com as cenas e, nestes momentos, revendo-as nas imagens das câmeras locais, coisas que editei e publiquei nas redes sociais. E a aquilo viralizou até virar meme… Tem a parte que ela sai correndo pela viela deserta, meio que saracoteando aos pulos até se estacar na esquina a esquerda, balançando o traseiro, e mandando o dedo do meio pra mim. Nunca antes um fantasma havia feito isso, ao menos assim eu acredito, agora até começo a crer em fantasma, pois, após este episódio, passei a pressentir estar sendo perseguido por entidades estranhas. Há, de fato, qualquer ordem universal que devo ter contrariado ao fazer pouco caso de desígnios divinais. Deus do céu, quantas bobagens há no mundo, mais uma menos uma, que diferença pode fazer? 

Antevejo coisas… Enfim, do pseudo-fantasma ser enrustido?, e, se macho, fêmea ou trans, o que importa?! E, se é que fantasma exista, ou – sei lá – se existir, por acaso terá gênero? Até agora fico sem saber ao certo… Foi assim que segui refletindo sobre certas bizarrices, deste ou de outros mundos e, paradoxalmente, foram estas indagações que passaram a me ditar novas reflexões sobre as velhas, de eu realmente existir! E, se for eu um espírito errante e aquela figura somente a minha própria imagem invertida – da menina que há em mim – ou até mesmo como uma caricatura grotesca da minha essência dúbia, como se fora um reflexo meu ao avesso (ao final, me vejo me vendo num círculo infinitesimal dando voltas e voltas sem nunca encontrar o início; ou como aquela cobra mística que tenta engolir o próprio rabo até que não restem mais nada, nem cabeça, nem rabo, nem cobra!)… sem atinar muito com nada, passei a emitir gritinhos histéricos pelas madrugadas na vã tentativa de lhe imitar o som. Aquele grito ficara grudado em minha mente, emergindo agônico em horas mais impróprias, incomodando e perturbando todos a minha volta. Perdi amigos, namorada, emprego, nem a minha família me aturava. Fiquei esquisitão com a ideia fixa no além do além, como um fantasma sem destino, sendo eu mesmo o meu próprio conselheiro ouvindo intermitentemente um vozerio interior…  

Ouço vozes e vejo coisas… Ainda mais aqui neste lugar, onde permaneço absolutamente aprisionado e tolhido nesta camisa de força. Eles querem me derrubar e estão por todos os lugares me vigiando. Fingem que não é com eles, mas ficam por lá, sorrateiros, escarafunchando minhas coisas, remexendo minhas memórias. Já faz tempo que eles estão me espreitando… pelas janelas, frestas… seguem me monitorando, dia e noite. Sinto que estou decaindo em minhas convicções mais críticas sobre a humanidade, cansando de pensar, quase derrotado… 

Os fantasmas estão me convencendo… 

“Será!?”