mula sem cabeça

A sogra da minha irmã

A história que conto agora não é minha diretamente, apesar de que tem um pouco do meu dedo nela. É sobre o sofrimento da minha irmã. Ela ama demais o José, seu marido. Eles se conheceram bem novinhos e logo se apaixonaram. Sabe aquele encontro de almas que só acontece uma em um milhão? Assim foi!…   Idílico, não é? NÃO, NÃO É! Por que ele tem uma mãe. Uma megera que quer o filho só pra si. Sabe aquelas pessoas que criam o filho pra elas e não pro mundo? Ela é esse tipo de pessoa. Minha irmã sempre foi compreensiva com os ataques dela. Ela perdeu o marido quando estava no último mês de gestação, criou o filho sozinha e com dificuldade, pois a família lhe virou as costas por ter engravidado sem casar. Ia esperar o bebê nascer para ir ao cartório para regularizar a situação com o companheiro. Então, vivia dizendo pro filho o quanto ela tinha sofrido para tê-lo e criá-lo diante das mazelas do mundo naquela cidadezinha do interior.

Eu achava aquilo um abuso! Sim, ela tem seus méritos, sua luta, mas usar isso para chantagear emocionalmente o filho para ele crescer com sentimento de culpa fazendo tudo o que ela quer é cretinice!

O Zé e minha irmã estudaram o colegial juntos, foram pra capital e fizeram universidade juntos (ela professora de Português, ele de Geografia), voltaram e passaram no concurso público da nossa cidadezinha. Logo eles anunciaram a vontade de casar, já que se estabilizaram cedo. A futura sogra deu um “piti”! Disse que o menino era novo demais pra casar, assumir uma casa. Não adiantou. Depois apelou para a frágil saúde dela, que iria ficar sozinha e ele não iria mais ajudar em casa. Como ela ficaria com o reles salário mínimo que recebia? Aí o filho vacilou, disse então que iria morar com ela no início até que ela se sentisse mais forte… isso já dura cinco anos! Tudo que minha irmã faz tá ruim: roupa mal lavada, comida sem gosto, quarto bagunçado, o filho vivia saindo de casa com a roupa amassada e o pior, ela não tinha conseguido engravidar e dar ao filho o rebento que merecia… Eu já teria dado um basta: ou sairíamos os dois para uma casa nossa, ou seria divórcio! Mas minha irmã suportava e ele tentava compensar sendo presente, amoroso, gentil e trabalhador.

Ela só não importunava quando estava igreja. Carola ao extremo! Fazia de um tudo: clube do tricô, clube das senhoras, até faxina na casa do padre, cozinhar, lavar e passar pra ele. Dizia que como tinha pecado quando jovem o tempo que lhe restava era dedicado à igreja. Conversa fiada porque ainda sobrava muito tempo pra ela azucrinar o filho e minha irmã!

Comecei a perceber o desgaste da relação nos olhos tristes de minha irmã, no modo calado do cunhado e no sorrisinho triunfante da vaca! Ia a igreja umas duas vezes ao dia e dizia que Deus estava olhando por ela, que lá é que ela se sentia em casa.

Resolvi meter o dedo como disse no início. Fui consultar um pai de santo numa quinta-feira pra pedir pra velha sair da vida deles. O pai de santo fez um trabalho e disse que eu não deveria desejar coisa ruim pra ela, mas sim o que ela mais queria justamente naquele momento se realizasse. Não entendi, mas fiz uma reza fervorosa pedindo que o que ela mais queria acontecesse naquela hora….

A velha chegou naquela noite com os olhos brilhando e feliz feito passarinho solto. Nem chamou atenção da minha irmã. Foi dormir dizendo que estava muito cansada… Na manhã seguinte a velha sumiu sem levar nada e nunca mais apareceu. Nem polícia a achou. O estranho foi que, a partir daquela sexta-feira de lua cheia, começou a lenda da mula-sem-cabeça na cidadezinha…