flores multicolorido

Coloridos

– Era uma vez… Ah! O bolo de fubá da vovó.
– É essa a história? O bolo da sua avó?
– Não! Estou falando do cheiro bom que vem da cozinha. Não está sentindo?
– Sim, mas conta a história, vai…
– Calma! Vou contar.

Pedrinho prometeu para Flor, sua amiguinha da escola, lhe contar uma história que sua avó lhe havia contado na hora de dormir, mas não lembrava direito da história, dos detalhes e não queria confessar… Foi aí, que teve a ideia! Pegou a Flor pela mão e entrou correndo na cozinha de dona Elza:
– Vó! Conta aquela história!?
– Que história, Pedrinho? Estou ocupada agora!
– A história do Multicor, vó!

Elza olha para os dois, depois para pia de louça e suspira:
– Tá bom! Mas primeiro vão buscar papel e lápis coloridos. Quero que desenhe a história.

Os dois foram e voltaram como foguetes. Quando a avó olhou, já estavam sentados à mesa da cozinha. Então a avó Elza, deslizando uma bucha encharcada de detergente pelos pratos e talheres, começou:
– Era uma vez… Um mundinho triste… Um planeta pequeno situado entre Vênus e Marte.
– Marte! Repetiu Flor com os olhos brilhando!
– Dá pra ver daqui, vó?
– Não! Ele é muito pequeno!
– Ah, tá!
– Mas, como eu ia dizendo, Multicor era muito pequeno e poucas pessoas viviam lá. Os multicolorados não eram diferente de nós. Tinham corpos iguais aos nossos. O que os diferenciavam de nós, e até mesmo entre eles, era a cor. Os nativos do planeta dividiam-se em tribos e cada tribo tinha uma cor específica. Havia a tribo magenta: eram vermelhos as crianças, os velhos, todos vermelhos! Já a população da tribo fulvo, era amarela e também tinha a tribo anil: os azuis. As tribos viviam isoladas, apartadas uma das outras. Os mais jovens aprendiam com os mais velhos, que não deviam se misturar… Os magenta diziam não gostar dos fulvo. Os achavam vaidosos, aparecidos e, além de tudo, eram amarelos demais. Já os anil não suportavam os magenta. Dizia que eram sujeitos competitivos, com sede poder, mania de domínio… E ambos ignoravam os anil, que dizia descender da nobreza, fazer parte da realeza, que todos deviam ser súditos seus…

Apesar de triste, o mundo multicor era bonito… Bonito porque era colorido, triste porque era dividido… A tribo Magenta, que ocupava a região norte do planeta, era dona de tudo que era vermelho. Só eles comiam morangos na sobremesa, só eles tinham as rosas vermelhas nas janelas… Já o sul era do anil. Lá estava o céu, as estrelas, as ondas do mar, o ar atmosférico. A tribo fulvo, com seu sol dourado, bem-te-vis amarelados, campos de trigo e milharais ocupava a região nordeste, bem vizinha dos magenta. Um certo dia, Rubra e Carmim, da tribo magenta, saíram mais cedo da escola. Há muito tempo que panejavam roubar um girassol dos campos dos Fulvo e aquele dia era perfeito! Rubra atravessou a cerca de acácias amarelas, correu entre as margaridas e quando iria adentra os campos de girassóis, caiu chamando a atenção de Flávio, que regava as flores. Ele ficou a olhando, sem dizer nada, e quando seu Hélio perguntou:
– Que barulho foi esse, filho?
Ele respondeu:
– Nada, pai. Tropecei aqui.

Flávio passou cera de abelha no joelho ralado de Rubra e deu a flor que tanto queria de presente! Primeiro ficaram amigos, depois enamorados. Só não sabiam como contar para as tribos. Um certo dia, o casal foi surpreendido pelo Senhor Tinto, pai de Rubra, que ficou muito nervosos, mas se acalmou quando soube que Flávio protegeu e cuido de Rubra quando ela invadiu seu território. Flávio cultivava as escondidas uma linda roseira vermelha e Rubra também escondia uma linda muda de girassol. As tribos então perceberam a importância que ambos davam a essência um do outro. Comovidos, abençoaram a união, não só do casal, mas das tribos magenta e fulvo! Pela primeira vez uniram em uma única festa girassóis e papoula, morangos e abacaxis. Meses depois juntos, o casal esperava ansioso a chegada do bebê. Uns achavam que seria vermelho, outros apostavam no amarelo. Mas, qual foi a surpresa de todos, surgiu um novo e único ser no planeta Multicor: O multicolorado alaranjado, que recebeu o nome de Laranjito Magenta de Fulvo.