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Ela me odeia?

Eram 17 horas da tarde, como todos os dias úteis, só que hoje era diferente: uma sexta-feira de horário de verão. Rogério Wilson saiu da empresa, olhou para o alto, abriu um sorriso. Depois, foi até sua moto estacionada no pátio e foi-se embora para casa. Hoje ele ia beber um vinho com a esposa e a festa à dois ia rolar até o sol raiar! Hoje não tinha dor de cabeça, não tinha a velha rabugenta da sogra, que finalmente deu uma trégua e foi passar o fim de semana com o filho especial… O cara só aparecia em datas especiais: aniversário da mãe, Natal e enterro de algum ente muito querido por ele (em sete anos e uns doze enterros, ele só o viu duas vezes: quando o pai e o melhor amigo de infância morreram). Quando ia, não demorava nem três horas com a mãe e já se via o seu desespero estampado naquela cara de buldogue para ir embora. Também, a velha era o cão com rabo pisado, raivosa que só ela, tudo reclamava! Aliás, o filho era a cara da mãe!

17h30 Lúcia não sabia o que fazer! Sua mãe simplesmente não quis ir para casa do seu irmão e Rogério já estava chegando. Como ia explicar isso para ele? Ele, ultimamente, vivia reclamando que sua mãe vivia seguindo-o com olhar. E ela sabia que era verdade, porque Dona Alfreda vivia colocando defeito em tudo que ele fazia. Quando ele pintou a parede, ela reclamou que tinha falhas e nem dois dias depois caiu um pedaço do reboco. Ele, quando viu, bradou em alto e bom som: “É o olho da Lacraia!” Outro dia foi a descarga que ele consertou e do nada ela disparou, alagou todo o banheiro e, adivinha quem estava na porta observando: Minha mãe!

Sem saber o que fazer, Lucinha teve a brilhante ideia de combinar com a mãe que ela ficasse quietinha em sua suíte, com o frigobar abastecido, lanchinho e tal, pelo menos até a manhã seguinte. Acordo selado, Lúcia foi se preparar para esperar Rogério Wilson, seu amado.
19h30 Rogério Wilson chegou no portão de casa e desceu da moto para abrir o portão. Notou um movimento na janela da sogra… Não era possível que a velha estava em casa! Quando se preparava para entrar, escutou barulho de moto atrás dele e já ouviu o grito dos bandidos: “Perdeu, mané, perdeu!” Virou lentamente e quando viu dois moleques franzinos, não pensou duas vezes: “Ahhh, não vai levar minha moto não!” E partiu para cima deles!
Dona Alfreda, que assistia a tudo, não teve dúvida e pegou o revólver do finado marido, que ela sempre limpava e que mantinha na gaveta da cabeceira. Sem pensar duas vezes, abriu a janela, confiou na mira e pow! Um tiro certeiro no bandido! Agora aquele Rogério ia ajoelhar e beijar seus dedos curvos!

Rogério estava no auge da briga, massacrando os bandidos (era lutador, mano!) quando sentiu algo estranho… Olhou para o próprio peito e viu o sangue brotar. Viu os bandidos correrem, inclusive levando sua moto. Ouviu a voz de Lúcia gritando seu nome e olhou para o alto… Lá estava ela… de arma em punho… ela odiava sua moto. Ele sabia, a culpa era dela, que vivia de olho em tudo que ele fazia e tinha… Foi o olho da sogra…