mosca

O cheiro do poder

A manutenção da existência custa caro. Quando desempregado, recorreu ao clientelismo. Ganhou uma carta do vereador da área, endereçada à Secretaria Municipal de Urbanismo, pra vaga de jardineiro. Nada entendia do assunto, porém a sua escolaridade permitia apenas mexer com a terra, a caneta caberia aos letrados.

Tomou posse. Era um puxa-saco. cacoete, pau pra toda obra.. Num lapso de tempo, recebia promoção, virava chefe. Garantia o cargo plantando flores para os enterros visitados pelo vereador da cartinha…

A dificuldade consistia na companhia do vereador, porque fedia muito, Detestava tomar banho. Tentava atenuar o mau cheiro com fragrância, mas pouco adiantava; exalava o cheiro do metrô de Paris, no horário de pico, mistura de catinga com perfume francês.

O pior residia no fato das moscas acompanharem a autoridade em comitiva, em qualquer lugar que ele ia; inclusive nas reuniões do partido, onde jamais Tarcílio poderia faltar, por causa do cabresto no emprego.

Numa dessas atividades partidárias, a mosca pousou em Tarcílio, fez um ninho nos cabelos do peito, depositou uns ovinhos, retirando-se faceiramente… O inseto contou com a distração do jardineiro, alheio à hospedagem da intrusa.

Chegou em casa, influenciado pela autoridade, esqueceu de tomar banho, dormiu feito uma pedra. No dia seguinte acordou com uma comunidade de moscas residindo no assoalho do esqueleto.

Incomodado com a infestação tomou banho, colocou inseticida, livrou-se do infortúnio. As horas tropeçaram nos minutos, a cada lapso de tempo sentia um aperto no peito, o tórax inchava.. No local da invasão surgiu uma montanha verde, revestida de amarelo nas extremidades.

O medo do fim tomou conta do sujeito, desesperado já arrumava as malas para mudar pro cemitério; justamente no momento em que recebeu a visita do mata-mosquito. O profissional, experiente. detectou a presença, no corpo de Tarcílio, da larva do animal invertebrado.

Tendo às mãos um alicate e uma chave de fenda, efetuou o procedimento, retirando a larva da mosca varejeira do infeliz. O idiota sobreviveu à intervenção na cirúrgica – tomou vergonha cara – largou o emprego, foi morar na rua da amargura, porém longe do cheiro de merda do vereador da Cidade Maravilhosa!