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A última esperança da terra

Aconteceria, enfim, o que já estava previsto a muito: o extermínio da raça humana! E foi por uma incompreensível sucessão de ações e reações. Com o avanço da última guerra nuclear, embora ainda não tivessem chegado a um consenso pacífico, a trégua se fez premente, pois o mundo estava em ruínas e as corporações já contabilizavam perdas e danos. Houve uma espécie de martírio geral diante daqueles rastros de destruições visíveis por todos os lugares, das grandes metrópoles aos confins; se não bastassem as mazelas bacteriológicas exterminarem metade da população, a outra metade se vira indefesa diante daquela certeza absurda: os humanos estavam estéreis. A natureza se tornara hostil e as seguidas catástrofes ambientais irromperam sobre todos, alterando-lhes as próprias naturezas; Sim! Não haveria mais novas gerações… Então, como fazer para o porvir, se os sobreviventes estavam fadados aos seus últimos tempos!? Se cada pessoa morta representava a extinção gradativa da espécie global?!… Finalmente, sem ter mais o que questionar sobre a vã existência, este quinhão de mais de três bilhões de indivíduos, se pôs em marcha diante de sua própria natureza predatória proclamando a paz geral e a unidade dos povos em prol de sua continuidade. Entretanto, somente um milagre poderia salvar a humanidade e, fora em nome deste princípio, criada uma nova ordem, uma nova religião impositiva: “A celebração geral com as odes celestiais por um novo milagre!”(…) 

Que o universo conspire?! Conspira! Mas, se… a favor ou contra?…

Houve algumas hipóteses para a explicação do fenômeno sobre a natureza daquela estranha criatura. Uns, otimistas, diziam sobre anjos descendo… alguns, ainda um tanto céticos, falavam em seres extraterrenos; outros, pessimistas, diriam se tratar de uma trama de propaganda neonazista… o certo é que, nem bem surgira como mágica, logo se tornaria uma fábula, algo como uma espécie de lenda urbana. Num horizonte caótico, avistou-se um facho de luz cruzando os ares até clarear a barriga incauta de uma mulher aleatória e, aleatoriamente, já iniciava um crescimento, a crescer e crescendo…  em pouco menos de duas semanas a moça já pressentira o parto; as contrações não deixavam dúvidas, ia nascer ali, talvez, um anjo! As preces foram ouvidas!!!

E veio ao mundo como deve vir qualquer ser angelical, já toda gut-gut, só sorrisos e braços abertos receptivos a todos e sem qualquer distinção. Não necessitava alimentação, pois vivia de ar, preces e bondades. Já nascera assim, pronta! E, com certeza, veio pra redimir a todos. 

Foi no seu terceiro dia de vida que lhe perceberiam um sinal no meio das costas, o que vinha a parecer uma marquinha de nascença. Logo se tornaria uma verruga que parecia crescer a cada dádiva compartilhada. Era coisa visceral, divinal. Os humanos abraçavam-se e logo atestariam alvíssaras… fertilidade. Todos queriam tocá-la e a verruga crescia e fora crescendo… Não tardaria lhe tomar o corpo inteiro numa espécie de carapaça que se tornaria num casulo, cessou-lhe toda a conexão externa; se fechara naquela concha… Até que, passado algum tempo, os mais entusiastas notariam lhe surgirem umas fissuras na casca, e rachaduras… E, aos olhos atônitos de todos, viram rompendo-se daquela grosseira crosta enrugada, com tamanha e ofuscante luminescência, a mais bela criatura jamais vista ou sabida. Pôs-se de pé e flutuante, enormes asas de anjo; passando a espalhar ainda mais amor e benesses. Uma multidão ocorreu ao local; cada pessoa querendo tocá-la, lambê-la, mordê-la… o que achasse possível de se fazer para conquistá-la; já haviam grupos corporativos movimentando exércitos e arsenais em direção ao platô aonde ela se instalara precariamente e sem qualquer cuidado com a sua defesa, somente o seu plainar sereno pra lá e pra cá, farfalhando uma espécie de pólen milagroso pra todos… 

Quando chegaram por lá, já vinham atropelando tudo e todos; aprisionaram-na enquanto a disputa fora se acirrando e os pacíficos se atracaram com os agressores conseguindo libertá-la, embora lhe cortassem as asas na fuga, depois os braços… fora trucidada ali mesmo, aos pés e sombras daqueles guerreiros, num panorama dantesco daquela marcha macabra sobre milhares de corpos espalhados pelas colinas.

Tempos depois, numa ribanceira próxima ao platô onde fora trucidada a criatura, alguma coisa vinha fervilhando das entranhas do monte de cacos da tal carapaça, soltando fluídos e fumaceira espessa. Logo milhões de larvas se espalhavam e se amontoavam até que virassem conchinhas e casulos e se desenvolvem como serelepes e esvoaçantes anjinhos, ganhando altura e espaços alhures.