Vendendo o peixe

Um lamento aos céus. Era o que a figura lançava com a mão esquerda erguida, como se querendo alçar voos ao infinito ou subir, flutuando bem acima das árvores. Cabeça erguida, a mão espalmada. Será que tentava pegar algum peixe voador? Alguma estrela ou algo belicoso, feito bala de canhão que passasse voando baixo pela Praça XV?

O centro do Rio era assim: Em cada dobra uma história de vultos transitando em várias dimensões; uns querendo ir, outros querendo voltar outros mais querendo contar de onde despontavam suas virtuosidades, suas canduras para encarar as intempéries, como aquela figura que na outra mão segurava um timão, mão-timão, mar, navegação girando no mundo, João num movimento, Cândido, num singrar para a libertação no açoite das ondas, castigando em chibatadas; e um almirante, medindo, mirando da imensidão, de uma guarnição, um Rio na palma da mão.

Figuras acima da figuração se elevam, participam, excitam, abrem caminho à revolução. Andam em meio a população num levante, numa esquadra, nas águas de um Rio a São João. Iluminação.

E esse rio revolto, de revoltas, pleno de consciência, dando ciência de eterna luta de praças nas praças, da consciência negra nas pedras pisadas no cais e do castigo nunca mais.

E a figura persiste em dizer a que veio num gesto de atenção ao transeunte alheio.