Qualquer receita pra curar dor de corno

Se o tempo não é preciso! Amar é preciso.

Houve uma época em que era comum se dizer de todo bom corno costumar se “fazer” de cego, surdo e esquecido, obviamente quando a conversa versava sobre chifres, e, também, a sua outra característica marcante: mudar o assunto.

Talvez por estar sentindo, metaforicamente, esta “dor de corno”, afinal sou solteirão convicto… Mas, vá bene, me simpatizo pelas causas dos cornos em geral. E, foi exatamente pensando neles que relembrei de um velho recorte de jornal que havia guardado, mas, faz tanto tempo, que já nem sei mais aonde enfiei e nem dos detalhes sórdidos…

Houve um período na minha vida que eu era fissurado em juntar coisas, em colecioná-las! Eram potes com bolas de gude, álbuns de figurinhas, embalagens de cigarros… e já me desfiz delas há tempos… E tinha até uns plásticos para colar nos vidros dos carros – estes eu ainda os mantenho numa pasta plástica para acondicionar plásticos (e, tenho quase certeza, fui eu quem inventou mais um jeito de usar aquelas pastas pretas onde a gente colocava os testes e as provas escolares. Ainda tem a venda! – Acho que vou comprar uma só de sacanagem.); sei que tem uns que são tão velhos quanto eu… Com mais de sessenta! No fundo, talvez eu ainda tenha a ilusão de que em algum dia alguém bem foda, e que seja da mídia, vai se interessar pelo seu conteúdo histórico ou contexto publicitário. Olhem só! Tem aquele sobre a campanha contra o tal do “cabeção Sujismundo: País civilizado é País limpo!” – mais ou menos isso, “puta metáfora irônica pra caralho!”; ou “Vai pra frente Brasil”, ou coisa que valha – não quis recorrer ao Google – mas, pra quem quiser confirmar… – tinha um com a porra de um elefantinho balançando a bandeira nacional”, acho que era da Shell ou da Esso – Não! O da Esso era um tigre; da Petrobrás, tinha o Petrolino; e… os de pára-choques, etc, etc – e era a época da ditadura… era só porraloquices!

– Aí, fica a dica para quem quiser… sei lá… investir nisso?! Se for interessar ou sabe quem queira é só me contatar lá no grupo “Aleatórios” – “to” vendendo!” Já pensou se sai no jornal… ou na TV!?

Mas…, voltando ao assunto dos cornos, hoje em dia, a tal “dor de corno” não costuma ser noticia de jornal, pois ficou banal demais e “moralmente incorreta”! Mas, já houve um tempo que “se vendia” bem – era engraçado, faziam piadas e cometiam-se crimes, alguns bárbaros, aí interessava – “ops! Ainda interessa à mídia, desde que tenha violência associada.

Sobre o artigo antigo, já ia me esquecendo: Era de um cronista das antigas, acho que foi de Stanislau que, em síntese, falava sobre uma tarde romanesca numa ode aos amantes: “Somente os inocentes são verdadeiramente felizes e amam puramente.”

Como eu “nunca fui corno e nem inocente!” Prefiro viajar sozinho na maionese, ou, numa precisão melancólica, cabe a velha e boa amizade colorida. Ninguém me perturba e eu não perturbo ninguém! “Ok! Vocês estão certos, às vezes dá ruim.”.

Prefiro aos amores carnais e despropositados, sem cobranças e, portanto, sem ciúmes ou cornitudes; e, bem sei, jamais aparecei em jornal por isso, ao menos assim espero. Os amores passionais são como a maré: ora nos inundam, ora nos afastam… “tô fora!”.

E por falar em marés, eis que penso na minha sereia favorita, Mescal o seu codinome, e aqueles olhinhos agudos; pretinhos e amendoados da imagem da embalagem – olhar de gueixa – das famosas gueixas cinematográficas dos filmes mudos. Apenas olhos úmidos. Só ela sabe como me atingir e provocar os meus mais ferinos dilemas; às vezes, em meio aquele encantamento, ainda naquela ideia de que tudo há de boiar num mar choroso… tento desviar o foco e pensar em coisas reversas, finjo, por exemplo, em me transportar para o interior do navio, imaginando estar num cruzeiro em alto mar, no seu imenso convés observando o batimento do oceano sincronizando-se ao meu ofegar… Logo me escapa o pensamento longínquo além do horizonte abobadado, quando escapo para um deserto, num outro horizonte: arenoso – mas, bem longe do mar, olhando constelações imaginárias, pois nada me provoca mais enjôo do que olhar um abismo. A alucinação melhora a minha percepção dos intramundos e os dois abismos se interagem e transmudam em pura névoa multicor. A mescalina me alucina e é nome dela, não a toa… Mas, acho que me perdi… no que mesmo estávamos falando?