mulher amamentando dois filhos

O homem que teve tempo de treinar para morrer… Ou, simplesmente… Bututa

Alan Bick de Carvalho Manso passara a semana ansioso, pois estavam chegando as suas férias, tão almejadas. Acumulara. Três meses. Pois pretendia seguir em uma viagem em direção a rumos ignorados. Em verdade, em verdade vos digo: Queria ir ao Rio Grande do Sul. São Bento, a terra do vinho… Conhecera uma gauchinha muito danadinha, via internet… Destas que solicitam palmadas na bunda (Adorava dar umas palmadinhas!)… Destas que pedem pra chamá-las de “cachorras”; de “vagabundas”… Isso ele estranhou, mas mandou ver.

Era dado à mulher… E a todos os seus predicados… E defeitos, é claro!… Mas, gostava mesmo era dos predicados. Era muito chegado ao chamado “sexo frágil”, que, ao seu ver, de frágil não tinha nada… Ainda mais agora, nestes tempos em que são totalmente independentes e empoderadas… Era feminista, por princípio, pois, pensava, quanto mais liberais… Mais libertinas!… Devassas! Adorava mulher! E todos os seus predicados. Agora, tô falando do corpo… Curvas, ante curvas, joelhos, sifões… Tudão! Ah, e seios… Quão belo era vê-los, beijá-los, acaricia-los. Mamara até os cinco anos. Que ele chamava de “gulinho”. Sempre adorou dar nome às coisas. Chegava pra mãe e dizia:
– Mãe… Gulinho!

E a mãe o atendia. Ia parar aos três, mas foi quando nasceu o irmão caçula… O moleque começou a mamar e foi quando, ele, ali, de bobeira, notou o outro seio da mãe, e disse:
– Ó, mãe… Gulinho. Tem um sobrando!

E voltou a mamar! Mais dois anos!… E aí deu um tempo! Descobriu a curuminzada da rua. E foi junto com essa curuminzada que descobriu que as “meninas” não eram só meninas, mas, projetos de futuras mulheres… Uia! E foi quando começou a estudar, com afinco… O corpo feminino! Virou sexólogo autodidata. E a cada descoberta, queria praticar… Retornou ao vício do mamarismo… Mas, agora com algumas técnicas… Aprendidas em exercício… Ou aprimoradas… Destas de molhar calcinhas mesmo! E, é claro, dedicou-se com maestria ao Tomo do Monte de Vênus… E a todos os seus “pontos”… G, U… A bem da verdade, ele foi de A a G… Seu prazer era dar prazer!

Notívago por circunstância, boêmio por prazer, conheceu belas mulheres… Algumas nem tanto, mas excepcionalmente dedicadas a um maravilhoso colóquio amoroso. E era bem isso:
– Coloque-o! – Diziam-no, infindas vezes.

No que ele atendia com satisfação. Também descobriu que elas punham nome em suas “bichanas”. Achou isso maravilhoso. E, assim, com Ágata conheceu a “maldosa”; com Jennifer conheceu a “lola”; com a Leandra, a “bobona”. Ops, erro do corretor ortográfico… Era um “A”. E também foi padrinho de muitas. Ajudou a batizar a “flavinha”; a “karen”, a “zoraide”, a “preciosa” e tantas outras. Claro que não era água que aspergia.

Ah, mas isso foi no passado. Até conhecer Maria do Prazeres… Que recebeu este nome, não por trocadilho, mas por predestinação… A mulher era imbatível… Cama, mesa e banho. Alan se lembrou da piada do marido que chegou em casa com um analgésico e um absorvente e os entregou a esposa, que disse: “mas eu não estou com dor de cabeça e nem menstruada…!”, ao que o marido replicou, na bucha: “Não?!… Então hoje vai ter!”. Alan não precisava destes artifícios… Ela queria! Uia!…  Menstruação?… Ela só tinha um ovário, portanto era mês sim e mês não! E quando “vinha”, eram só dois dias. Ou então, colocavam uma “camisola” no Capitão Caverna e lá ia ele pra sua aventura ioiótica de espeleologia! Todo feliz!… Pra voltar morto! Ops! Semi… Rsrsrsrs.

Mas, isso também é passado… Maria começou a ter com ideias estranhas de “Relação Aberta”… De “Poliamor”,… Todavia sem entender nada sobre o assunto. Por curiosidade. Ele, cego, tentou agradá-la no que pode… Mas, desandaram e acabaram se separando.

Hoje, sem motivos para viver, estava treinando para morrer. Taxiando, como dizia. O avião não vai até a cabeceira pegar velocidade e espaço para ir para o “céu”? Pois é… Primeiro foi uma sensação de “formigamento” no supercílio. Tivera três vezes assim, seguido de uma ataxia… Sem conseguir coordenar os movimentos. E isso aconteceu em casa; num bar; e na rua… Por último, ao sair do banho, celular na escrivaninha, foi ao quarto e se prostrou na cama. Celular longe, teve uma hemiplegia, alteração neurológica com paralisia em um dos lados do corpo. Pensava no celular. Longe. Portão fechado. Celular longe. Sozinho. A voz quase não saia, distônico. Quis chamar um palavrão. Nada masculino, como a maioria o é. Pensou em dizer o nome chulo dado às “bichanas”… Mais o que proferiu, baixo e arrastado, com a boca torta, foi:
– BUTUTA!

E ficou ali olhando o teto, com a boca escancaradas esperando a morte chegar. Não. Isso é Raul!… Ria! Dizem que quem tem um enfarto não ri. Então desandou a rir e a gritar “só pra ele”:

– Bututa!… Bututa… Bututa!

Uma meia hora depois, não sabe bem, melhorou. O celular estivera longe, junto com o relógio e todas as seus acoplamentos. Ai! Logo ele que adora acoplar.

Bom, isso também é passado. Suas férias estavam chegando. Chegaram. Ao invés do Rio Grande, planejou ir a Mangaritiba, onde estivera com sua ex-, vivendo momentos felizes, de mãos dadas. Ela morava lá. Foi! Talvez morresse em seus braços. O que aconteceu!

Chegando lá, ela o recebeu bem… Beberam um vinho. Durante a resenha ele lhe contou o que aconteceu, que muito a sensibilizou, sim. Ela preparou uns petiscos. Tudo nos conformes. Estranho foi, quando ele no banho lhe pediu uma toalha e ela a entregou na ponta do cabo de uma vassoura… Ao que ele proferiu:

– Nossa, quanta cerimônia!

De banho tomado ele foi para o sofá, trocar a música… Sempre ouviam “românticas”. E ela foi se refrescar…

Foi então que sentiu o tal formigamento no supercílio… Tentou se levantar, não conseguiu mais… Aí tentou chamar a Maria. Não articulava seu nome:
– Maia! Maia!… Maiaaaa!

Ela acabara de sair do banho e pressentiu que ele a chamava… Foi até a sala e ele estava lá, hemiplégico. Entrou em desespero, querendo chamar a ambulância, mas ele dizia que não… Não, não, não!

Com o braço que ainda tinha movimentos ele fazia o sinal que não… E com a perna, ele tentava chutar o celular das mãos dela. Ainda bem que não conseguiu… Se quebrasse o aparelho, ela o mataria.

E ficaram nessa lengalenga por vários minutos… Ela chorando e dizendo que chamaria ajuda; ele, semiparalisado, e impedindo suas ações… Prendendo-a com as pernas… Pensou: “Que ironia!”, ela que tantas vezes fez isso com ele!

Com os parcos movimentos que podia, solicitou que deixasse pender a cabeça em seu colo. Feito!

– Pelo amor de deus, não vai morrer… Não quero passar por isso, de novo!

Ele olhou para o seu rosto, molhado… Fez o sinal de positivo com a mão que ainda tinha algum controle, e falou sua última palavra:
– BUTUTA!