Nova Iguaçu: Os irmãos siameses contos & poesia

Em meados da década de 1970 a poesia já fervilhava pelas ruas de Nova Iguaçu. A Revista Equipe, dirigida por Adalberto Cantalice, editada por Jocenir Ribeiro, tendo como colaboradores Enock Cavalcanti, Luis Ferrão e Jô Vitorino assumia uma nova linha editorial abrindo espaço para a poesia e artistas locais. Por ela ocorreu a publicação dos poemas inéditos de Antônio Fraga, fato esse que desencadearia a sua volta ao cenário literário nacional, por ocasião da publicação de uma matéria sobre o poeta no suplemento “Caderno B”, do Jornal do Brasil. Logo depois, o editor Nélson Abrantes, pela Edições Mundo Livre, em 1978, publicou o livro com o poema-dramático “Moinho e”, e uma segunda edição do livreto de prosa-porosa “Desabrigo”, com prefácio do Paulo César Pinheiro, do qual destaco o seguinte trecho:

“Da maneira de escrever de Antônio Fraga os puristas talvez não gostem. Mas os puristas também, talvez jamais tenham frequentado os lugares de onde a linguagem corrente é essa mesmo.”  

Ambos os volumes foram responsáveis pelo retorno do Antônio Fraga às gôndolas das livrarias.

Contudo, a Revista Equipe era predominantemente uma publicação voltada ao gênero “conto”, porém, além da publicação de gente um pouco esquecida pelas editoras mainstream, também foi a incentivadora de uma geração de novos escritores (contistas), publicando em 1977 a antologia “Primavera Relativa”, mesclando tarimbados e novos autores como Laís Sá Amaral Jr, Luis Ferrão, Enock Cavalcante, Antônio Carlos Rocha, José Antônio Cardoso, David de Castro, Du Malhado, além do ilustrador Jô Vitorino, tendo como editor Adalberto Cantalice.

A revista dava espaço, ainda que pequeno, aos novos poetas da região que nela encontraram o seu primeiro suporte para publicação. Nasciam então os irmãos gêmeos, muito parecidos, no entanto, com personalidades diferentes: o Conto e a Poesia, esta última desencadearia nas décadas seguintes uma maior exposição de seus escritores, que do suporte físico migraram para a oralidade e para os fanzines que começariam a surgir e possibilitar uma publicação mais efêmera e de baixo custo, sendo copiados em máquinas Xerox ou xerocados como se dizia na época, o que veio a desenhar todo um novo cenário, desta vez, mais voltado para o gênero “poesia” e que viria a se firmar com mais afinco no decorrer dos anos posteriores.

No final dos anos 70, e começo da década de 1980, novos grupos de poetas e publicações foram surgindo, tais como a Revista Gruta Literária (editores: Idicampos e Thadeu Ferreira); Poemarte (do poeta Jorge Cardozo); Revista Amplitude (do SESC); o Grupo Tangerina composto por Thadeu Ferreira e Idicampos; a Revista Nosso Jeito (dos irmãos Eduardo e Enock Cavalcanti) tendo como patrono Antônio Fraga; Grupo Caco de Vidro (Idicampos, Heitor Neguinho, Dejair Esteves, J.A. Lima e Moduan Matus, rabiscadores de poesias nas portas das lojas do centro de Nova Iguaçu, e por outras cidades da Baixada) e ainda o Grupo Calabouço, que apresentou o evento “I Encontro das Artes”, em 1977, no Colégio Afrânio Peixoto, além do Jornal Teia, fundado por Adalberto Cantalice e Moduan Matus, que segundo Francisco Igreja em seu “Dicionário de poetas contemporâneos” (Editora Oficina Letras & Artes) teve a duração de dois anos, entre 1983 e 1985. De acordo com a mesma publicação, por esta época, Moduan Matus foi o autor dos manifestos “Poesia Baixadense” e “Poesia Panfletária”. O mesmo poeta, considerado um dos mais atuantes da região, foi citado na “Enciclopédia de Literatura Brasileira” (2ª ed. Revista, ampliada, atualizada e ilustrada sob a coordenação de Graça Coutinho e Rita Moutinho. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL: Academia Brasileira de Letras) como um dos fundadores e integrantes do Grupini (Grupo Poetas Independente).

A poesia continuaria a dar os seus mirabolantes voos pelos bares, Casa da Pantera, praças públicas e outras estações orbitais, tais como a Barraca de Poesia no Calçadão de Nova Iguaçu. Poetas de outras galáxias apareciam para dar canjas, destacando-se Flávio Nascimento e sua caixinha de cinema; Samaral e seus poemas sonoros; Zé Cordeiro e seus pop’s-repentes; o coletivo Panela de Pressão e seus provençais-melopeicos unindo música e poesia (Jênesis Genúncio, Sidnei Cruz, Lúcio Celso Pinheiro, Euclides Amaral, R.R. Juca e Antônio Branco); grupo Passa na Praça Que A Poesia Te Abraça (Douglas Carrara, Sérgio Alves, Antonio Feitoza e João Batista) e Luiz Renato com seu “Cardápio Poétiko”, só para citar alguns, já que “a lista seria maior que a Constelação de Andrômeda”, parodiando o poeta-letrista Xico Chaves, quando este se refere à quantidade de seus parceiros musicais.

As coletâneas começaram a surgir ainda nessa mesma década, de 1980, como a “Feira-Livre – Dez Autores Iguaçuanos”, publicada pela Copy & Arte, de Jocenir Ribeiro, mesclando e liquidificando gente nova com pterodáctilos-efervescidos de tempos imemoriais, entre eles Walter Faria Pacheco, Decy Ribeiro, Laís Sá do Amaral, Cirino Neto, Moduan Matus e Luiz Coelho Medina, entre outros vates de plantão.

A “Antologia de Poetas da Baixada Fluminense” (26 Poetas Baixadenses) lançada, por Gladstone Accioly e Cristina Siqueira, com o apoio da Fundação Rioarte, é desta época (1990), tendo também a colaboração do poeta e pesquisador Moduan Matus, persona indispensável como consultor de Leila Míccolis, Carlos Alberto Messeder Pereira e Heloísa Buarque de Hollanda no livro “Literatura Comentada – Poesia Jovem Anos 70”, pela Editora Abril Cultural, em 1982, que vaticinou na publicação:

“Os poetas Sidnei Cruz, Jênesis Genúncio e Moduan Matus são, ao lado de vários outros, nomes importantes do movimento da nova poesia que agita as áreas da Baixada Fluminense e outras regiões da periferia do Rio de Janeiro.”

Este que vos escreve também fez uso do acervo de Moduan Matus, que sempre esteve e está aberto aos que queiram desfrutar de seu magnífico memorial sobre a cultura da Baixada Fluminense, principalmente da cidade de Nova Iguaçu, de onde é oriundo e tem seu QG, nada secreto, sempre cheio de poetas, atores, contistas, historiadores, músicos, pesquisadores a varejo e convidados para os ritos dionisíakos de libações a Baco e comilanças esporádicas, sempre regadas à amizade e à poesia.

No início da década de 1990 a agitação passou pelo Daniel’s Bar, banker criado pelo músico e compositor Daniel Guerra na Praça Santos Dumont, no centro de Nova Iguaçu, onde se discutiam direitos difusos e infungíveis inerentes à humanidade, tendo como gancho os acontecimentos da época interligados com declamações e papos reluzentes sobre literatura e MPB, e ainda os “Encontros com a Poesia”, na Casa de Cultura de Nova Iguaçu e na Praça José Hipólito. Por esta época, mais precisamente no dia 6 de dezembro de 1991, surgiu o fanzine Desmaio Públiko reunindo novos poetas e outros da era glacial, editado pela chancela Vício & Verso, capitaneado pelos poetas Cézar Ray e Eud Pestana. O lançamento se deu na Praça Santos Dumont, no Daniel’s Bar, que segundo Cézar Ray era:

“O bar da matilha antenada”

A Editora Vício & Verso configurava-se em uma editora de cunho etéreo, de contrato social mirabolante e capital de giro diáfano, que além de publicar o Desmaio Públiko lançou os livros “Poesia de final de milênio” e “Os fios estão em todas as partes”, ambos de Moduan Matus; “Ad nutum” (Marlos Degani); “Presente” (Alcides Eloy) e “Poemas sujo de um velho”, do poeta niteroiense Lobo.

Em 1997 ocorreu o lançamento do livro “Anos 90 – Poetas na Baixada – Coletânea do fanzine D. P.” (com alguns poemas dos 66 números iniciais) contando um pouco da trajetória da rapaziada que orbitava o grupo Desmaio Públiko, que a esta altura do campeonato já era visto e assumido como um grupo de poesia, mesmo que muita gente nem se desse conta disto. Nesse mesmo ano, de 1997, surgiu Poesia & CIA, zine que estampava uma nova geração de poetas inspirados no Desmaio Públiko, encabeçado pelos poetas Thiago Mattos, Leon Sake e Daniel Cedrak. Dois anos após, em 1999, o rapper Dudu de Morro Agudo e o ator Luiz Carlos Dumontt idealizaram o Movimento Enraizados, responsável por lançamentos de livros, discos e filmes, sendo o coletivo mais ligado à cultura hip hop e seus principais desdobramentos: o grafite, sua linguagem visual como artes plástica urbana; o break, sua linguagem corporal, e o rap (rhythm and poetry) envolvendo o DJ e o MC, sua expressão poética urbana. No ano posterior, em 2000, o casal Moduan e Sil fundou o Bar Raízes, estação orbital da discussão e pancadaria intelectual em prol da poesia e outras petecas-imaginárias, como o lançamento da coletânea “XXI Poetas de Iguassú”.

Em 2002, o conto volta a dar as caras em muitos lugares e com vários autores, sendo um deles, o letrista e escritor Luciano D’aoca, de Mesquita, outra cidade da Baixada, porém, frequentador assíduo das efervescências por poética de Nova Iguaçu, lançou o livro de contos “Esses excepcionais são mesmo excepcionais”, com prefácio de Sérgio Fonseca. Segundo o historiador, memorialista e poeta Moduan Matus, no volume “História de Nova Iguaçu – Iguassú – Recortes de uma cronologia ilustrada de 510 anos”, o volume foi lançado no Rei dos Galetos, na Praça da Liberdade, em Nova Iguaçu.

No ano de 2003, Nelson Freitas, então Secretário de Municipal de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu, criou a “Bienal do Livro de Nova Iguaçu”, na qual o Café Literário foi uma das principais atrações com apresentações de poetas e grupos locais, tendo como convidados Eduardo Bueno (Peninha), Jorge Mautner, Guinga, Carlos Heitor Cony e Ricardo Cravo Albin, além de Euclides Amaral e o poeta caxiense Eduardo Ribeiro, representando o coletivo de poetas Utopicus Pacifics, criador dos portais Baixada On, e depois do Baixada Fácil, dois dos primeiros sites somente com conteúdo da Baixada, assim como os dois anteriores aos criados por ele, o Boca da Baixada e o Baixada Center, ambos no início dos anos 2000. Vale mais um adendo sobre este poeta de outra cidade da Baixada. Eduardo Ribeiro também foi o editor da Revista Arrulho, porta voz dos incautos poetas Eduardo Ribeiro, David Sá, André Oliveira, Geraldo Garcez, Paulo Kmikz, Mário Fumanga e Heraldo HB, entre outros integrantes do grupo criado em 1986, na Praça do Pacificador, em Duque de Caxias, outro município da Baixada Fluminense.

Voltando ao ano de 2003, Cézar Ray, Sil Lis, Lírian Tabosa, Eud Pestana, Moduan Matus e outros centauros da poesia galoparam no evento “Ecos da Baixada”, no SESC Nova Iguaçu; deram piruetas-poétikas por vários points de poesia no Estado do Rio de Janeiro, sempre pulverizando versos, infernizando e descabelando poesia, como no Circo Voador, na Lapa, no Rio de Janeiro, por exemplo.

O Desmaio Públiko funcionava como um catalisador e em torno dele foram surgindo novos grupos como o Decúbito Dorsal (JR Júnior, Alcides Eloy e Cézar Ray) e Regurgito Poétiko (Marlos & Monir), além de novos zines como o Entre Linhas, da poeta Ivone Landim.

No ano de 2005 outra ala do Desmaio Públiko, desta vez a mais cheirosa, apresentou-se na inauguração do Espaço Cultural Sylvio Monteiro no “Dia da Mulher”. O evento, realizado pela Secretaria de Cultura com o apoio da FENIG (Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu) e Coordenadoria Especial de Políticas Para a Mulher apresentou as poetas do Desmaio Públiko Feminino (Sil Lis, Lírian Tabosa, Josy Louzada e Kátia Vidal, entre outras). Ainda em 2005 Marlos Degani, Cézar Ray, André Alasf, Eud Pestana, Macedo Moraes, Alcides Eloy, Lírian Tabosa e Moduan Matus apresentaram-se regularmente no Espaço Cultural Sylvio Monteiro em projeto da Secretaria de Cultura na gestão da Comissão de Secretários, composta por Roberto Lara, Jorge Cardozo, Daniel Guerra e Lino Rocca. Ainda em 2005 Marko Andrade e Luiz Carlos Batera criaram o projeto de música e poesia “Quintal Brasil”, apresentado no Espaço Cultural Sylvio Monteiro, com um trio musical composto por Trio Luiz Carlos Batera (voz e bateria), Marko Andrade (violão e voz) e um baixista acompanhando o convidado musical. No caso do ´poeta-letrista Sergio Natureza, quando do lançamento do seu CD “Um pouco de mim”, o evento, ficou por conta dos poetas Cézar Ray, Eud Pestana, Euclides Amaral (direção), Iverson Carneiro e JR Júnior que declamaram poemas do convidado, assim como a participação do músico Marcelo Peregrino executando composições do letrista. O próprio Sergio Natureza declamou a sua letra de “As aparências enganam”, feita em parceria com Tunai, incluída no disco na voz de Elis Regina. Em outras edições os convidados foram o cantor e compositor Hyldon, e ainda, Ricardo Cravo Albin e Euclides Amaral falando sobre o samba e o choro, enquanto o trio musical Quintal Brasil executava clássicos dos dois gêneros.

No ano posterior, em 2006, o gênero “conto” viria a aparecer na bibliografia do poeta Moduan Matus, que publicou o livro “As margaridas estão cada vez mais raras”.

Pelos idos de 2008, idealizado por Ivone Landim, seria criado o grupo literário Pó de Poesia, integrado pelos poetas residentes Jorge Medeiros e Marcio Rufino, e ainda, o músico Dida Nascimento, mais tarde foram incorporados Arnoldo Pimentel, Camila Senna, Felipe Mendonça, Aline Corssais, Dóris Barros, Valéria Assis, Sylvio Neto, Anderson Leite Lima e Idicampos, além do ator Ramide Beneret e da artista plástica Gabriela Boechat, por se tratar de um coletivo multicultural. O grupo foi criado no bairro Piam, em Belford Roxo (outro município integrante da Baixada Fluminense) mantendo as suas atividades mais especificamente no Centro Cultural Donana (em homenagem à Dona Ana, a matriarca daquela região), capitaneado pelo cantor e compositor Dida Nascimento, um de seus filhos.

No ano de 2011 outro evento, mais precisamente o sarau mensal “Encontro de Poetas & Afins”, foi criado pelo casal de poetas Moduan Matus e Sil Lis (com a contribuição luxuosa da poeta-mirim Marília Matos) recebendo na Biblioteca Cial Brito, da Casa de Cultura de Nova Iguaçu, e posteriormente, no Botequim Estação Floresta, mais tarde, renomeado Cultural Bar, na Rua Floresta Miranda, vários aedos para lançamentos de livros e apresentações, entre os quais Ele Semog (anagrama de Luís Gomes), Diogo Aguiar, Alcydinei Santos, Vagner Vieira, Aline Cardoso, Gambiarra Profana (Sergio-Salles-Oigers), Folha Cultural Pataxó, Luiz Cantalice, Iverson Carneiro, Almir Silvícola, Cristiano Pinto, André Luz, Euclides Amaral, Cris Amaral, Henrique Souza, Sérgio Fonseca, Meire Oliveira, Claudina Oliveira, Victor Loureiro, Éder Rodrigues, Marina Coufals Sena, Viviane Barroso, Alexandre Bollmann, Mané do Café, Jorge Rocha, Maria Luísa Rodriguez, o trio musical William Batalha, Josy Louzada e Inez Azevedo, Heraldo HB, Camila Pontes, Antônio Paullista, Léo Rossetti, Almeida dos Santos, J. Marujo, Celso Felizola, Mauro Vasconcelos, Cláudia Miquelloti, Deise Freitas Addia, Thiago Kuerques, Fabiano Soares, Rosilene Jorge e Ivan Wrigg, além do percussionista Reppolho, lançando o seu “Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão”, entre tantos outros poetas e músicos que passaram pelas diversas edições do “Encontro”.

Em 2013, um tanto quanto fora do circuito poético, entretanto, ligado ao conto, surgiu o grupo Catando Contos, em Morro Agudo. Anos antes, também se reuniam na casa do casal Moduan Matus e Sil Lis vários escritores para produzir, falar e ler contos, tais como J. Marujo, Lafayette Suzano, Moduan Matus, Sil Lis, William Sertório, Gelson Maciel, Heitor Neguinho e Cézar Ray, entre outros. Tais “Encontros” – regados à Feijão Amigo – perduraram por cerca de sete anos durante os anos 2000.

Como o vento das novas possibilidades vive levantando a aba do chapéu da poesia, em 2013 surgiria na cidade, essa caldeira-poétika-efervecente, o “Sarau V”, fundado por Janaína Tavares e Gabriel Ferrão, juntando-se a eles Matheus Carvalho, Diego Ferrão e Paulo Igor, goliardos-poétikos em declamações mensais na Praça dos Direitos Humanos, no burburinho da cidade. Neste mesmo ano, o rapper Dudu de Morro Agudo criou o “Sarau Poetas Compulsivos”, segundo o próprio:

“Com o objetivo de reunir pessoas que não conseguem parar de produzir, ler e/ou recitar poesias.”

Com agitação mensal, no Espaço Enraizados em Morro Agudo, o ethos do sarau é a diversidade de participantes, a integração de gerações de artistas da região e a mistura de músicos, atores, jornalistas, autores, poetas, skatistas e rappers. Ainda em 2013 foi criada por Gisela Barros, Anderson Leite Lima e o músico e compositor Marcelo Peregrino a primeira SAT (Semana das Artes em Tinguá), com o apoio do Secretário de Cultura Wagner D´Almeida e de diversas entidades locais, apresentada entre 14 e 17 de novembro e reunindo poetas, artistas plásticos, atores, dançarinos, oficineiros, griots e músicos.

No ano de 2014 foi lançada a coletânea “Nova Iguaçu – Por onde a poesia passa”, apoiada pela FENIG (Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu) na gestão do então presidente Marcos Antônio Machado Ribeiro. O trabalho, produzido pelo poeta Anderson Leite Lima e o Grupo Agito Cultural, também integrado por Eud Pestana, Aline Corssais, Leon Átomo, Gabriel Ferrão, Gisela Barros e Hugo Mendes Guimarães contemplou uma parte bem representativa dos poetas mencionados e atuantes na produção poética neste período tão profícuo para a cidade de Nova Iguaçu. Neste primeiro momento foram editados os seguintes poetas representando os seus respectivos coletivos: Anderson Leite Lima (Encontros de Poetas & Afins); Eud Pestana (Desmaio Públiko); Aline Corssais (Pó de Poesia); Átomo (Poetas Compulsivos); Gabriel Ferrão (Sarau V) e Hugo Mendes Guimarães representado uma nova vertente, mais cibernética designada de “Poemas na Rede”.

Da apresentação, escrita por Marcos Antônio Machado Ribeiro, destaco os seguintes trechos:

“Nova Iguaçu é uma grande cidade, não só pela sua extensão, mas também pela riqueza cultural que possui. Existem, hoje, grandes movimentos de cultura que, por meio da música, literatura, dança, fotografia, das artes plásticas, do teatro, ou do cinema expressam as raízes culturais do Município e suas modificações sofridas ao longo do tempo, provenientes da capacidade de criar… Este livro é uma grande expressão cultural do Município que, no contexto histórico atual, exprime a alma do povo iguaçuano. É uma obra literária de valorização, que deixa um legado histórico-cultural para as gerações futuras.”

Ressalto um trecho de uma segunda apresentação do livro feita pelo poeta-letrista Sérgio Fonseca, também professor de português-literatura da região e muito reconhecido por ter sido mestre de vários poetas supracitados:

“Muitos grupos – não cheguei a acompanhar todos, confesso – surgiram e desapareceram por essas ruas e bares de nossa vila. Em igrejas, em colégios, nas praças públicas, em palcos improvisados, através desses nossos artistas, a poesia retornou à sua condição original. Se antes, e as cantigas medievais nos dão o pleno testemunho disso, a arte poética era sustentada pela música, traduzidas nas notações de partituras inclusive, agora, divorciada desta, passou a percorrer o nosso espaço plenamente realizada na oralidade da palavra. Às vezes, ruidoso silêncio, às vezes, grito desatado, a poesia se instaura como palavra em movimento. Daí, a aura revolucionária que sempre revestiu a luta desses para sempre jovens poetas.”

A agitadora e produtora cultural Gisela Barros também aduz aspectos relevantes no prefácio da coletânea poética, como neste trecho, por exemplo:

“Nova Iguaçu – por onde a poesia passa é um projeto do Grupo Agito Cultural, idealizado pelo poeta Anderson Leite Lima, que consiste na publicação de três volumes de livros com coletâneas de poetas que integram os saraus da região, movimento que tem tido uma grande importância no fomento da poesia na cidade. Neste livro, assim como nos saraus, há um intercâmbio entre os poetas e grupos, numa troca que enriquece a publicação.”

Uma pena que a produção dos outros dois volumes, citados por Gisela Barros, não tenha se confirmado nos anos posteriores, aumentando ainda mais expectativa dos poetas e do público.

Demonstrando que nem só de poesia vivem os poetas da Baixada Fluminense, alguns deles se aventuram, e muito bem por sinal, pela prosa, tanto que em 2015 o poeta Luiz Coelho Medina publicou em seu livro de poemas “Alados”, 48 pequenos contos em uma seção intitulada “Textículos Alados”.

No ano de 2016 Moduan Matus publicou um livro inusitado, com duas capas em sentidos inversos: “Dois em Um: Poemas travalinguistas e Contos minimalistas”, corroborando mais uma vez que o conto e a poesia são siameses, porém, com personalidades diferentes. Na outra parte do livro, intitulada “Contos minimalistas”, Moduan Matus nos apresentou uma profusão de imagens, apesar do espaço restrito das palavras em seus nanocontos, que estão imbuídos de concisão e precisão matemática tão comuns no haicai japonês e nos dísticos, sendo este último tipo de composição com apenas dois versos e que trazem sentido completo – tão antiga que se perdeu no tempo a sua origem, sabendo que a grafia pode ser oriunda de duas línguas antigas: Latim “distĭchon” ou do grego “diʃtiku”.

Ressalto da parte do volume intitulado “Contos minimalistas” os seguintes microcontos:

“Ao atirar a primeira pedra lascada
virou as contas e desmaiou com o baque,
enquanto o que não foi atingido patenteou o bumerangue”

O próximo me pareceu uma singela homenagem ao Drummond:

“Era uma pedra no meio do caminho e, para piorar,
entrou em um sapato que passava”

E para fechar, mais um de seus variados temas de seus minicontos:

“Quando lhe tiraram o chão
alçou o esplendor no voo sem pisar em ninguém”

Enfim… “Moduan Matus, O Polivalente”, epíteto conquistado por ser poeta, cronista, pesquisador e observador antenado, atua na literatura contemporânea com a polissemia do discurso e que lhe peculiar, envolvendo o reconhecimento da tradição como vínculo direto com a modernidade latente, mas sem entropia no discurso, tão comum aos “moderninhos de plantão”.

No ano de 2017 a poeta Ivone Landim também dá seus saltos em prosa-porosa publicando “Mar Em Ti Com Cereja”, com lançamento no “EP&A” (Encontro de Poetas & Afins) em bar na Rua Floresta Miranda, no Centro de Nova Iguaçu.

O enfoque da voz poética da Baixada Fluminense é direcionado a todos os artifícios de gêneros literários e possibilidades tecnológicas. Desta vez fez uso de uma emissora rádio para expandir o seu fazer poético pelas ondas sonoras. Tanto que em 2017, na emissora 94.1 FM RIO (à época, ex-Roquette Pinto) entrava no ar toda segunda-feira o programa lítero-musical “Quitanda Cultural”, comandado pela dupla de músicos Daniel Guerra e Roger Hitz, com o registro fotográfico de Jorge Ferreira.

O programa tinha como centro as entrevistas com personalidades ligadas às artes, cinema, teatro, literatura e música.

No quadro “Canto da Casa” foram entrevistados Marko Andrade (cantor, músico e compositor), Sérgio Fonseca (poeta, letrista e ex-secretário de Cultura de Mesquita), Marcelo Peregrino (cantor e compositor), Nelson Freitas (ex-secretário de Cultura de Nova Iguaçu, músico e produtor cultural), Heraldo HB (músico, poeta, escritor, cineasta e um dos fundadores da Rádio Kuarup, e do portal Baixada On, ambos de Duque de Caxias), Giordana Moreira (produtora cultural), Claudina Oliveira (atriz e produtora cultural), Ele Semog (poeta), Tigú Guimarães (fotógrafo e documentarista), Beto Rocha e Fernanda Morais (cantores e compositores), Euclides Amaral (poeta-letrista), Ivone Landim (professora e poeta), Luiz Anselmo (historiador e pesquisador de MPB) e Paulo Santos (fotógrafo).

Contudo, o diferencial de tal programa recaía nas poesias lidas e declamadas pelos apresentadores entre as entrevistas, geralmente poetas da Baixada Fluminense, das 13 cidades que a compõe.

Foram declamados poemas de JR Júnior, Eud Pestana, Cris Amaral, Sil Lis, Henrique Souza, Antonio Feitoza, Marcio Rufino, Josy Louzada, Cézar Ray, Victor Loureiro, Sylvio Neto, Leonardo Lino Francisco, Jorge Cardozo, Moduan Matus, Luiz Coelho Medina e Lírian Tabosa, entre outros não menos importantes e representantes da cultura da Baixada Fluminense.

No ano seguinte, em 2018, o programa “Quitanda Cultural” passou a ser gravado ao vivo (uma vez por mês) no auditório da emissora e nada melhor para estrear o novo formato do que o trabalho do poeta-letrista Sérgio Fonseca. Para tanto, os apresentadores e produtores Daniel Guerra, Roger Hitz e Jorge Ferreira viabilizaram o espetáculo “Uma Homenagem ao Mestre Sérgio Fonseca” com as participações dos instrumentistas e cantores Bira da Vila, Gabriel Azevedo, Dandan Montes, Marcelo Martins de Marsillac, Clarice Magalhães e Vidal Assis, os quais interpretaram composições de Sérgio Fonseca com diversos parceiros, inclusive, com alguns dos citados. Na ocasião, foi gravado um DVD com as performances e entrevistas destes convidados, além de outros presentes. No ano seguinte, em 2019, surgiria o coletivo de contistas Aleatórios, idealizado pela dupla de escritores Jonatan Magella e Thiago Kuerques, também integrado por Carlos Mendes, Moduan Matus e Sil Lis, que passou a organizar na Biblioteca Municipal Professor Cial Brito, localizada no Complexo Cultural Mário Marques, leituras semanais de contos autorais, assinados ou não. O grupo chegaria a mais de 20 edições do evento e média de oito a 12 autores lendo os contos. Desta forma, o Aleatórios passou a alcançar autores que não tinham espaço nos saraus poéticos, não porque fossem proibidos e sim, pela condição do público, acostumados à poesia e a pequenos textos, principalmente para serem lidos e/ou declamados em bares e praças públicas, ou em apresentações rápidas, o que a leitura de um conto dificultava muito a obtenção da atenção plena da plateia. Ainda em 2019 os coletivos de poetas continuaram com seus saraus. Contudo, a predominância da poesia ofuscava um pouco outros gêneros literários como a “prosa” e o “conto”. No ano posterior, em 2020, o grupo Aleatórios comemoraria o seu primeiro aniversário de existência lançando a coletânea de textos intitulada “Aleatórios” sob a tutela dos autores Anna Carvalho Diamante, Antonio Feitoza, Carlos Mendes, Charlene França, Eliane Gonçalves, Elisabete Nascimento, Jéssica Simões, J. Marujo, Lafayette Suzano, Moduan Matus, Nice Neves, Rafael Diamante, Sérgio Salles, Sil Lis, Thays Penco, Thiago Kuerques e Jonatan Magella, os dois últimos produtores do trabalho. No ano seguinte, em 2021, seria publicada digitalmente a segunda antologia do grupo sob o título de “Contos de todos os cantos – Uma coletânea de narrativas de autores da Baixada Fluminense”, tendo como autores J. Marujo, Elisabete Nascimento, Jéssica Simões, Idicampos, Marcelo Bizar, Moduan Matus, Jenifer Furtado, Luciana Carvalho, Klem Machado, Carlos Mendes, Hedjan Costa, Laila Ferreira, Charlene França, Nice Neves, Antonio Feitoza, Eliane Gonçalves, Ana Cristina Diamante, Rafael Diamante, Lafayette Suzano, Danilo Crespo, Sil Lis, Carla Ribeiro, Robson Jesus Rua e Pako Jacutinga, além de Jonatan Magella e Thiago Kuerques (coeditores da publicação) com lançamentos presenciais e digitais, tendo em vista a pandemia de COVID 19, obrigando os saraus a uma nova realidade, o “Sarau On Line”, aos quais todos os coletivos da cidade, de poetas e contistas, aderiram. Vale lembrar que no ano de 2021 tanto a poesia quanto o conto na cidade de Nova Iguaçu ficaram à mercê da pandemia e de seus produtos denominados “Live”, ocasionando uma perda homérica para a relações humanas. Ainda assim, o poeta Idicampos editou o seu livro de contos “Ironia do Destino”, lançando-o pouco depois. No ano posterior, em 2022, as reuniões do grupo Aleatórios (contistas) e dos poetas em vários saraus (entre muitos outros) pelo município foram voltando gradativamente, como por exemplo o Sarau PPP (Prata, Prosa e Poesia) comandando pelo poeta Junior da Prata, na Vila Cátia, no bairro da Prata, tendo também como residentes a poeta Elizabeth Gomes, o poeta Klem Machado, os músicos Celsinho Steve e VH (Vinícius Henrique), a cantora Michelle Lopes, além da cantora-mirim Marina Elis.

No ano de 2023, por intermédio do Sarau Poetas & Afins, com direção de Sil Lis e Moduan Matus, e com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, mediante e por intermédio do Edital Literatura Resiste foi desenvolvido um projeto cultural em que predominava, segundo seus criadores:

“… A apresentação aos estudantes e comunidade escolar a autores locais, projeção de poemas visuais, doação de livros e sorteios de publicações. É o EP&A disseminando poesia e livros; intercâmbios e fortalecimentos da cultura/literatura da nossa região.”

O projeto teve como abertura um sarau com os participantes no Esconderijo’s, no Centro de Nova Iguaçu, na Rua Santa Luzia, à noite, e dias depois, apresentações dos poetas e contistas no Colégio Estadual Profª Venina Corrêa Torres, em Santa Eugênia; no Colégio Estadual Dom Adriano Hipólito, no Centro de Nova Iguaçu; mais uma noite no Esconderijo’s, e por fim, em uma manhã, apresentação dos escritores no Ciep Nelson Rodrigues, em Morro Agudo.

Os escritores (poetas e contistas) que se revezavam nas apresentações foram Iverson Carneiro, Lisa Castro, JR. Júnior, Carlos Mendes (contista), Lírian Tabosa, Idicampos, Euclides Amaral, Luiz Coelho Medina, Alexandre Bollmann, Carlos Zück, Moduan Matus, Sil Lis, Antonio Feitoza, Josy Louzada, Camila Senna, além dos músicos e compositores Beto Rocha e Vinícius Henrique.

Importante ressaltar que neste empreendimento literário, pelas escolas do município, os gêneros literários “Conto” e “Poesia”, estava lado a lado levando mensagens para os alunos, pois vários dos poetas presentes também se aventuram a apresentar seus contos, entretanto, o contista Carlos Mendes era e foi o único exclusivamente a fazer uso somente do gênero “conto” em todas as ocasiões em que esteve presente, o que mais uma vez veio a provar que o conto e a poesia sempre caminham em comunhão, basta lhes darem espaços para que possam dividir as oportunidades, aliás, como podemos notar, uma inversão de papéis, pois no começo do texto, como ficou explícito, o conto era o produto principal e abria espaço para a poesia em suas publicações e eventos, lá na década de 1970, o que vem a corroborar a minha visão de que são irmãos siameses. Vale destacar também que o poeta Moduan Matus foi o único do grupo a apresentar poemas visuais.

Voltando ao EP&A, os seus criadores concluem em folder, do qual separei trechos, explicativo às instituições contempladas:

“Poesia e músicas conduzem os eventos. O projeto conta com autores e músicos, e ainda apresenta um olhar mais aguçado à poesia visual e cada unidade visitada receberá doações de livros. Desta forma, objetiva-se o registro da produção literária e cultural local e adjacente. Uma mostra dos valores da região que se orgulha de seu potencial, e tem o sarau como fortalecimento e revitalização de seu alcance.”

É claro que um projeto desta envergadura aglutinou vários profissionais de diversas áreas e não somente os poetas e contistas que pontuaram a ação nas escolas da região. Primordialmente vale ressaltar Moduan Matus, Sil Lis e Nathália Cabral (produção executiva) a tríade captadora deste fomento à poesia, que permitiu chegar a esta condição tripartida:

“Poetas, mensagens, alunos”

Outros personagens tiveram real importância na produção e na condução dos eventos, tais como Camila Senna (fotógrafa e assistente de produção), Josy Louzada (articuladora por unidade escolar), Gabriela de Oliveira (assistente administrativa), Pâmela Ohnitram (videomaker), Antonio Feitoza (articulador por unidade escolar), Rafael Gomes (articulador por unidade escolar), Marília Matos (fotógrafa), Fael (intérprete de libras) e Teresa Cristina de Oliveira (intérprete de libras). Entretanto, isto não seria possível sem as contribuições generosas dos professores e da direção das escolas sempre em perfeita harmonia com os supracitados. Porém, acima de tudo e de todos mencionados estão os alunos, a real essência deste trabalho.

Em 2024 o gênero “Conto” marcou presença mais uma vez. O coletivo literário Aleatórios comemorou cinco anos de existência lançando a sua quarta coletânea intitulada “Retrô-visor”, no Teatro Sylvio Monteiro, no Complexo Cultural Mário Marques, com apoio da FENIG, em noite de autógrafos que contou com a presença de alguns dos autores da coletânea integrada por Alexandre Bollmann, Ana Carvalho Diamante, Antonio Feitoza, Carlos Mendes, Carla Ribeiro, Cézar Ray, Charlene França, Chris Jones, Denise Dantas, Denise Rodrigues, Eliane Gonçalves, Elisabete Nascimento, Idicampos, J. Marujo, Jacob El-mokdiki, Janice Barros, Jonatan Magella, Joni Bigoo, Lafaytte Suzano, Laíla Ferreira, Luciana Carvalho, Luiz Coelho Medina, Marcio Rufino, Moduan Matus, Nice Neves, Nilton Silva, Pako Jakutynga, Patrícia Montês, Rafael Diamante, Ricardo Rodrigues, Robson Rua, Sil e Wagner Fontes.

 

Em relação à coletânea, é importante ressaltar alguns trechos da apresentação deste volume feita por um dos fundadores do Aleatórios, o escritor Jonatan Magella, na qual discorre sobre a importância do coletivo e seus porquês:

“O ano de 2019 foi de variações para o Aleatório. O nosso primeiro encontro, em março daquele ano, foi com tema livre. Se o tema era livre, consideramos o primeiro tema como ‘liberdade’, tanta que não sabíamos como escolher os próximos. …Nossos temas disparadores ou significantes-mestres nunca foram muito pretenciosos. Seguiram ‘roleta russa’, ‘encruzilhada’, ‘espelho ôntico’, ‘amigo-culto’. … Acredito que a verdadeira contribuição política de uma literatura e do Aleatórios é permitir que se fale determinadas palavras que, em outros ambientes, são interditadas. A mudança começa na luta da linguagem.”

Outras observações, também destacando a essência não só do grupo, mas da obra em si, ficou por conta da apresentação da curadora do livro, a escritora Anna Carvalho Diamante, escritos estes dos quais pincei o seguinte fragmento:

“Esta é uma Edição Comemorativa que traz de volta para a nossa degustação saborosos momentos vividos ao longo dos últimos cinco anos. Nesta Obra, não é pretenso mostrar apenas os contos gerados por cada tema escolhido. A proposta é viajar, revisitar aquele primeiro encontro, que cada um de nós teve com o coletivo, o reencontro com a noite do nosso primeiro conto mais votado, ‘inesquecível’! O encontro em que exibimos as camisas com o símbolo ‘Aleatórios’ pela primeira vez! Aquele outro que lançamos a nossa primeira coletânea, as exposições no shopping, as matérias nos jornais, a criação do site, a luta para permanecermos juntos nos momentos pandêmicos, as lives, as interações com os outros grupos, a chegada de novos amigos, a partida de outros, as homenagens, as conquistas… E além disso ‘tudo’, ainda temos as histórias contidas atrás de cada tema degustadas junto a bons vinhos, as gargalhadas, os desfechos, as novas amizades, o acolhimento, a simpatia, os estreitamentos dos laços e o fio condutor de tudo isso: a ‘Nossa Literatura’! Literatura essa que faz registros, que descreve de formas diversas a história e trajetória do dia a dia e do nosso entorno.”

Por outro lado, neste mesmo ano, de 2024, houve mais uma corroboração da importância do Desmaio Públiko não só como publicação de novos poetas da Baixada, mas também, da sagacidade de um de seus fundadores nas artes plástica, Eud Pestana, em 2024 foi aberta a exposição do artista plástico e grafiteiro Marcelo Ment (nascido em Nova Iguaçu e criado no subúrbio da Vila da Penha) no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, Museu Edison Carneiro, no Museu da República. A exposição intitulada “Mundo Ment” reuniu parte da obra do grafiteiro de renome nacional e internacional, e segundo Daniel Reis, autor dos textos do catálogo, há a citação da importância de Eud Pestana e do trabalho dele nas artes plástica e na literatura contemporânea da Baixada Fluminense, por isso o destaque para o trecho:

“O conjunto de referências que compõem a linguagem visual de Ment é também marcado por encontros e parcerias com algumas pessoas. Dentre elas, destaca-se o poeta e artista plástico Eud Pestana, conhecido como Vavá, falecido em 2017. Eud foi um dos responsáveis pela criação do pioneiro Desmaio Públiko, fanzine que circulou no início dos anos 1990 com o objetivo de publicar poetas da Baixada Fluminense. Ment trabalhou com Vavá em muitos projetos, considerando-o um de seus principais mentores. Algumas dessas ações foram também os primeiros passos da empresa Utopia Artes & Cenografia, de outro grande e longevo parceiro de trabalho, o artista e cenógrafo Jorge Dias.”

Para fechamento separei uma homenagem ao Coletivo Desmaio Públiko feita pelos músicos Rubens Cardoso e Olten Jorge, que compuseram a música “Desmaio Públiko”, eis a letra:

“Desmaio Públiko”
(Rubens Cardoso e Olten Jorge)

 

Sou de uma tribo da Baixada
o underground que conspira pela madrugada
enquanto a aranha tece a sua teia
rola um baticum lá na cadeia.

A morena balança o seu balaio
e a caricatura do Desmaio
Cézar Ray, Pestana e Moduan,
Toquato em frenesi lê Peterpam.

Enquanto o céu se despe
com suas nuvens negras
Por sob as nuvens
escondem-se constelações inteiras
e quando é lua cheia
há uma transmutação na aldeia.

Zé Bedeu vira Lobo,
vira lobo, vira lobo!
Zé Bedeu vira Lobo,
vira lobo, vira lobo!

Para desfecho o autor desse texto também fez a sua reverência aos poetas iguaçuanos, um poema, como não poderia deixar de ser:

“Desmaio Públiko”

Quando eu ouvi
Era um zine, era Desmaio,
Era verso e coisa e tal!

E era Cézar e Alasf,
o Cardozo e o Eira!
Ninguém tava de bobeira!
Era pião, era fieira!

Era o Eud, era Medina,
o Laranja que era Lima
Moduan e Anderson Leite Lima. 

Quem nunca viu nem imagina,
É fel, é purpurina!
É Camila, Josy e Líria!
É Viviane, é Sil!
Evoé Lisa e Marilia!

 

Se no início deste texto ficou claro que o gênero “conto” capitaneava as ações de edição, reuniões e apresentações, e, eventualmente, abria espaço para a poesia, devemos atentar para o fato de que nos anos posteriores o gênero “poesia” assumiria um maior destaque nas ações de edição, reuniões e de apresentações, ofuscando um pouco o gênero “conto”, porém, no decorrer dos anos ambos os gêneros se fundiram nas ações dos escritores, que por sinal, foram desenvolvendo os seus fazeres poéticos envolvendo as duas vertentes literárias concomitantemente, exercitando tanto o conto quanto a poesia, o que ocasionou, na contemporaneidade, a simbiose de ambos os gêneros, resultando em livros com poetas também contistas, e nas apresentações, nas quais os dois gêneros são contemplados e obtêm resultados idênticos por parte dos escritores presentes, e consequentemente do público.

 

BIBLIOGRAFIA CRÍTICA CONSULTADA:

 

AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.

COUTINHO, Afrânio; SOUSA, J. Galante. Enciclopédia de Literatura Brasileira. 2ª ed. Revista, ampliada, atualizada e ilustrada sob a coordenação de Graça Coutinho e Rita Moutinho. São Paulo: Global Editora; Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/DNL: Academia Brasileira de Letras, 2001. 2 V, p. 1038.

FRAGA, Antônio. Desabrigo. Coleção Lúcifer 01. Rio de Janeiro: Edições Mundo Livre, 2ª ed, 1978.

IGREJA, Francisco. Dicionário de poetas contemporâneos. Rio de Janeiro: Editora Oficina Letras & Artes, 1988 e 2ª edição, 1991.

HOLLANDA, Heloísa Buarque e PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. Literatura Comentada – poesia jovem anos 70. Rio de Janeiro: Editora Abril Cultural, 1982.

LIMA, Anderson Leite (Org). Nova Iguaçu: por onde a poesia passa. Rio de Janeiro: Edição FENIG e Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, 2014.

LIS, Sil, et MENDES, Carlos (Orgs.) Livro Comemorativo dos 10 anos do Sarau EP&A: Encontro de Poetas & Afins – 2011/2021. Nova Iguaçu, Rio de Janeiro: Edição & Patrocínio Lei Aldir Blanc; Secretaria Especial de Cultura; Ministério do Turismo; FENIG e Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, 2021.

MATUS, Moduan. Anos 90 – poetas na Baixada – Coletânea do fanzine Desmaio Públiko. Nova Iguaçu, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1997.

MATUS, Moduan. Dois em Um – poemas travalinguistas e contos minimalistas. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2016.

MATUS, Moduan. História de Nova Iguaçu – Iguassú – Recortes de uma cronologia ilustrada de 510 anos. Nova Iguaçu, Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2018.

REIS, Daniel. Mundo Ment – Catálogo da exposição de Marcelo Ment. Pesquisa e texto. Rio de Janeiro: Iphan, CNFCP, 2024.

SOBRE O VOCÁBULO “SIAMESES”: O termo é atribuído a pessoas que por uma anomalia nascem coladas, geralmente pelo torso. A designação deste tipo de anomalia como “Siameses” ficou popular nos Estados Unidos no final do século XIX, quando dois irmãos, oriundo do Sião, foram levados para este país como atração do Circo dos Horrores. Em 1939 o país Sião mudou de nome para Tailândia.