pé na areia

Férias de um capricorniano

André dormia pouco, A insônia já era crônica. Acordava antes do galo cantar. Sem fazer barulho para não acordar esposa e filha, tomava seu café solitário e partia para a banca de jornais que ficava no centro de Nova Iguaçu, na rua da Caixa Econômica. Era jornaleiro há quase vinte anos. Quando adolescente, ajudava o tio Edson que tinha uma banca perto da Calçadão. Sempre foi tímido e muito reservado. Tanto que foi Patrícia que tomou a iniciativa, caso contrário não teria namoro nenhum. A primeira pergunta dela tinha sido: qual é o seu signo? Descobriu que era capricorniano. André não entendeu nada. Seria ela uma hippie? Ela comprava gibis para o irmão mais novo, revista Destino e outras coisas também como desculpa para conversar com André. E, como diz o ditado, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, o casal não apenas namorou, mas se casou também. Melhorou muito em relação à timidez, mas era muito caseiro. Da casa para a banca, da banca para casa. Não jogava uma pelada com os amigos, ou ia ao shopping. A filha Vanessa que tinha dez anos, tentava quase em vão sair com o pai. Sempre conseguia na semana do aniversário. Passava seus momentos livres lendo livros ou em frente à televisão de quarenta polegadas que ainda não havia sendo quitada.

Quando André apareceu em uma reportagem no jornal foi o maior rebuliço. Ela apresentava diariamente jornaleiros que atuavam na Baixada. Tinha foto e um pequeno texto. O que chamou a atenção de todos era o fato dele ter dito que não tirava férias há oito anos. A família colocou André na parede e ele não teve como escapar. Organizaram tudo e passaria uma semana fora em uma casa alugada pelo cunhado em Conceição de Jacareí. Vanessa, a filha, estava eufórica com a viagem. Na ida, um sofrimento só devido a blitz, obra e acidente. Dava pra ter ido em São Paulo. Sem contar que havia um sol para cada um.

Quando chegaram finalmente na casa, o portão da garagem emperrou, não abria de jeito nenhum. A kombi ficou do lado de fora. A água acabou e não tinham chegado ainda. Toda a humanidade devia estar naquela praia, pensou André, que chegou a encontrar dois fregueses da banca. Êta mundo pequeno! Eram tantos pés que precisa olhar para o chão para não pisar em ninguém. E que areia quente! O cunhado alcoolizado já não falava coisa com coisa. À noite, quando ligou a TV, a surpresa: não estava funcionando. E nem o ar-condicionado. Aquilo foi a gota d’água. Ia embora no dia seguinte, mas a esposa o convenceu a ficar. Preferia voltar a trabalhar. No dia seguinte, na praia, Vanessa que brincava com a prima Sarah, olhou para ele e sorriu. Era a expressão da felicidade e isso para ele era o mais importante. A filha correu em direção ao pai que estava na sombra e juntos de mãos dadas entraram na água. Brincaram, cantaram, construíram castelos de areia e tomaram sorvete de chocolate vendo o pôr do sol. Vanessa não tinha dúvidas: Foram as melhores férias da sua vida.