pesca

Fantasmas imaginários

Dois amigos se encontram na pescaria mensal de um grupo de pesca promovido por Zé Pescador. Gilberto toca o ombro de João, um tanto incrédulo pois, pelo que se recordava, tinha horror de água, barco e ainda mais pescaria, exclamando: Não acredito que é você! João se vira já o abraçando e sorrindo respondendo: Pois é meu amigo muita coisa mudou desde nossos tempos de escola (continuando a falar enquanto retirava a bolsa do assento e com gestual educado o convidando a se acomodar ao seu lado). A vida nos surpreende e ensina bastante. Enquanto o amigo se senta, agradecido e sem conter a curiosidade, imediatamente perguntando o que de tão especial ocorreu para que uma mudança tão positiva acontecesse e seguem proseando, enquanto na outra ponta do barco Zé Pescador anima a tripulação dizendo; “Pessoal, o mar hoje está pra peixe” apontando para as gaivotas que mergulhavam e emergiam se deliciando com o banquete.

João, acompanhando os pássaros, relembra o medo que sentira por anos de tudo. Nada que fugisse a sua zona de conforto o agradava, mantendo-se submerso por alguns instantes em seus pensamentos a recordar, até ser interrompido pelo amigo tagarelando: “Mas João, foi algum tipo de promessa ou milagre? Me conta homem!” Calmamente, João responde: Nada disso. Eu simplesmente amadureci, e com o passar do tempo, aprendi a viver o momento presente tão intensamente que acabei conectando com memórias longínquas de tempos em que acreditava não ter vivido, mas me adoeciam e assustavam, causando grande confusão na vida, não me permitindo olhar pra frente.
– Como conseguiu isso, meu amigo? Frequentou alguma igreja, grupo de terapia ou magia?
– 
Claro que não! Que isso?

Como sempre afoito Gilberto não permitindo que fale, simplesmente comecei a olhar para dentro e me ouvir, sentir, observar, questionando e permitindo que brotassem respostas e caminhos fossem descortinados, como simples expectador obediente. Diariamente passei a ter confiança, autoamor e a medida em que percebia o quanto o medo me paralisava, na maioria das vezes, as dificuldades era eu quem fabricava. Aos poucos, fui experimentando sensações e vencendo desafios, deixando pelo caminho fantasmas imaginários que me impediam de ser livre e feliz! Obrigado, amigo Gilberto, por me lembrar e mostrar o quanto venci.

De repente, os dois amigos foram surpreendidos pela subida da rede repleta de peixes e gaivotas a acompanhá-los, enquanto o sol a se pôr silenciosamente e majestoso concluía mais um dia.