Pessoa no elevador

Erro de português

Hoje de manhã, um dia bonito saiu para celebrar a vida. Apressei o argumento, em casa, fechei a porta, apertei o botão do elevador, a máquina obedeceu ao comando, surgiu com um passageiro inusitado; o cara, meio sem graça, vestia-se de vampiro fora do carnaval.
Sorri, descontraído, cumprimentando o passageiro da caixa de lata. Ele, porém, olhou-me temerosamente; perguntei a referência, sendo respondido de pronto:
— Sou um vampiro!
— Como?
— Um Drácula.
Eu pensei com os botões, baixinho, certamente uma loucura… Insistiu o companheiro de viagem:
— Tenho 500 anos.
Aí, perdi a cabeça:
— Meu camarada, você tá de sacanagem comigo?
— Não, sou natural da Península Ibérica, português nascido às margens do Rio D’ouro, muito prazer: Don Manoel, rei de Portugal, ao seu dispor!
— O quê faz aqui?
— Como a gostosa do apartamento 1305.
— Desconheço tal figura.
— Pois bem, adentro o recinto, sempre, pela janela, mas hoje o distinto marido chegou cedo, quase me flagrou, sobrando o elevador para a fuga…
— Explique a questão, afinal os vampiros são fortes, bravos, imortais. Por que fugir?
— A minha linhagem monárquica de vampiros só poderá ser exterminada por um verdadeiro corno. Consciente da presença dos chifres. Semelhante à situação do morador do décimo terceiro andar. Entendeu o porquê do desespero?

Acenei com a cabeça, quando fui surpreendido por uma nevoa, encarregada de sumir com a assombração. A estratégia da mágica deixou-me sozinho no elevador. O térreo apareceu no visor, saí atordoado, perdido entre as orelhas… Caminhei em direção à administração do condomínio, recorri ao porteiro, interpelei a cerca da natureza do apartamento1305.
João, o porteiro, sujeito curioso, fez cara de paisagem:
— Senhor, aqui, o prédio conta com, apenas, cinco andares.

Conto publicado originalmente no livro Ironia do Destino.