tiroteio escola

Cotidiano

– Abaixa… abaixa…abaixa… –  Pede a professora aos seus alunos agachados no corredor da escola, ao mesmo tempo que tentava confortar e abafar o choro das crianças.

Marcelinho sequer conseguiu sair de casa para ir à escola naquele dia. Sua mãe passou mal ao acordar assustada com o barulho ensurdecedor do tiroteio. E ele, apavorado, correu em busca de socorro pela vizinhança. 

Ao colocar os pés para fora do portão foi atingido por um projétil que não se sabe de onde saiu. Ficou estendido na calçada até ser socorrido por um policial que participava de mais um confronto com os bandidos instalados na comunidade. Com um fio de voz pediu para ele acudir sua mãe que, sem ele saber, já estava morta em decorrência do infarto que a acometeu.

Uma das vizinhas, esgueirando-se na janela, gravou a cena pelo celular e compartilhou nas redes. Aproveitou para combinar com os moradores, integrantes do grupo do WhatsApp, mais uma manifestação, assim que a situação acalmasse, para mostrar a indignação e pedir providências das autoridades. Embora já soubesse que de nada adiantaria, mas não suportavam mais tanta violência e esse era o único meio que encontravam para chamar a atenção.

Viviam trancados em suas casas; saíam apenas para trabalhar (quando conseguiam) e voltavam o mais cedo que pudessem porque era muito perigoso ficar à noite nas ruas. O morro é controlado pelo tráfico e são os bandidos que ditam as regras.

Marcelinho foi levado para o Hospital Municipal que fica na parte baixa e nobre da cidade, rodeado por prédios onde vivem pessoas felizes e bronzeadas, frequentadoras da praia do bairro, conhecida internacionalmente e que usufruem da segurança dos condomínios, não tendo noção das marcas que o medo deixa na parte alta da Cidade Maravilhosa.

Marcelinho chegou morto no hospital. Vida que segue.