maleta espionagem

Cine Pandora

Fábio nunca tinha tido a ventura de encontrar nada na rua, nem uma moeda sequer, apesar de seu nome significar sorte e prosperidade. Mas aquele papel bem dobradinho caído no cão chamou sua atenção.

Ele o pegou, desdobrou e viu que era um voucher de um filme que estava passando num cinema no centro da cidade. Era pra última sessão daquele dia de um filme romântico: dez da noite. Bem que ele estava precisando de um romance na vida sem graça que estava levando. Coincidentemente, estava em nome de um Fábio. O sobrenome era diferente, mas ninguém iria conferir isso na bilheteria mesmo.

Viu que um cara estava vindo em sua direção olhando avidamente para o chão. E se o voucher fosse dele? Azar! “Achado não é roubado, quem perdeu foi relaxado.” Guardou rapidinho no bolso. O homem, com aspecto nervoso, perguntou se ele tinha visto um papel dobrado no chão. Fábio fez cara de paisagem e disse que não. O homem falou que tinha impresso o papel, mas nem tinha dado tempo de lê-lo. Papo estranho… Voltou a olhar pro chão e seguiu seu caminho.

Fábio chegou em casa, tomou um bom banho, colocou um bom perfume… quem sabe se no cinema encontraria, próximo ao seu assento, uma mulher solitária que se debulharia em lágrimas vendo o filme e desejando aquilo pra ela também. É aí que ele pretendia entrar e prometer romance.

Início de semana, última sessão… o cinema parecia às moscas. Não viu nenhuma jovem solitária em cadeira alguma. Aliás, quem havia comprado aquele ingresso tinha escolhido um lugar horrível no meio da última fileira.

O filme não era lá essas coisas e no ápice da cena de amor a música aumenta e um homem senta rapidamente ao seu lado. Chega bem perto e pergunta:
– Você é o Fábio?

Pronto! Sabia que não era ele! Era o nome que tava no voucher. Resolveu continuar com a farsa:
– Sim, sou eu.
– Trouxe meu envelope?

Caramba? E agora? Deu uma de sonso:
– Envelope? Que envelope?
– Não brinca comigo não e me entrega logo essa merda!

Fábio notou que o nervosismo do cara tava no limite e resolveu contemporizar:
– Ah! O envelope! Desculpa Deixei em casa. Me passa seu número de celular que amanhã te ligo e marcamos para eu te entregar.

O homem, alucinado, agarrou o braço de Fábio e rosna em seu ouvido:
– Para com esse joguinho! Já te paguei para me entregar as informações. Marquei no cinema para ser num território neutro como você me pediu. Não vai me fazer mais de babaca. De hoje não passa. Me dá logo essa porra!

Fábio viu que o cara parecia doido e começou a gaguejar dizendo que não tinha envelope nenhum, que não era o Fábio que ele tava procurando… Não teve mais tempo pra dizer nada enquanto o homem dava 3 facadas em seu peito e revirava seus bolsos.

Saiu do cinema apressado enquanto os suspiros agonizantes de Fábio se confundiam com os suspiros de prazer nas cenas de amor que passavam na tela.