Escola rural

Banana, a menina Joana e o início de uma nova jornada

Em uma manhã de outubro na escola do bairro rural de plantio de cana-de-açúcar no interior de Pernambuco, mais uma semana de aulas se inicia… As crianças vão chegando, se acomodando devagar, bebem água fresca do filtro de barro no cantinho da sala pra se refrescarem da longa caminhada de casa até a escola. Dona Dirce, a professora de Ciências, Português, Matemática e História entre em sala para mais um dia de aula com dinamismo, contando casos, cantando, dançando, fazendo movimentos com objetivo de tornar o aprendizado mais prazeroso e eficaz uma vez que as condições para o ensino são muito precárias. Com sorriso largo e voz forte dá um bom dia!!! Faz a chamada perguntando a cada criança como foi o fim de semana? Como foi o culto dominical, o irmãozinho que nasceu… e assim as crianças vão acalmando e participando da aula…

Joana é uma dessas crianças inquietas, falantes que precisam de um assunto muito interessante para ficar de boca fechada e prestar atenção, muito inteligente, curiosa com dez anos de idade, oito irmãos, filha de boias frias responde a chamada contando sobre o irmãozinho que está chegando e talvez precise parar de ir à escola para tomar conta dele…  A professora atenta respira fundo e sempre sorrindo abre o livro de ilustrações que ela mesma criou caminhando pela sala mostrando a figura enquanto pergunta:
– Quem já viu um pé de banana? Quem de vocês sabe o que é um coração de banana?

Joana dá uma gargalhada escandalosa fazendo com que todas as demais crianças gargalhem juntas, a professora pergunta o motivo daquela gargalhada tão gostosa e de imediato responde:
– Ah! professora Banana não é aquele garoto que vive caindo? Ou aquele velho que diz sim pra tudo, que todos enrolam e ele nem percebe?

A professora imediatamente fica séria e chama a atenção de joana, isso são modos de falar menina, o velho a que se refere deve ser tratado por senhor e além disso ele é muito generoso e bondoso, o que fazem com ele é uma maldade pois ninguém merece ser chamado de banana, onde ou com quem aprendeu essas coisas? As demais crianças acham normal e também comentam, a sala de aula vira uma balbúrdia, todos falavam ao mesmo tempo, o tempo passa, o sinal toca avisando que a aula terminou. Joana volta pra casa pensativa sem respostas e sem entender o motivo da bronca que levou, afinal todos chamam o velho de banana!

Enquanto caminha sozinha se pergunta o que é banana? É de comer? Vestir? Seria um lugar? Por que é maldade falar assim com o sr. Banana? Ele não liga, até ri…  Intrigada e muito barulhenta chega em casa chamando por todos sem parar de perguntar o tempo todo, alguém me explica o que é banana? Oiê alguém aqui? a menina caminha casa adentro até a área dos fundos e nada, vai até a cozinha vê o fogão de lenha apagado, sinal de que não tem boia, sua barriga ronca de fome, na escola também não teve comida, ela corta uns pedaços de cana e mastiga até a casa de sua avó tagarelando… ah!

A casa estava vazia, porque sua mãe trabalhava na lavoura com seus irmãos mais velhos, seu pai na estrada dirigia o caminhão carregado de cana de açúcar desde cedo, somente sua avó poderia estar, contava que além dela também tivesse comida pronta.  Ao abrir a porteira sente o cheirinho da fava cozida com alguns legumes e verduras da plantação caseira da família, Joana sai correndo gritando: Vó cheguei!!! Cadê a senhora?

Dona Otília da cozinha grita, tô aqui! E colocando a comida no prato da neta pergunta se ela tem notícias de casa, se viu sua mãe hoje…

Avó e neta sentam-se a mesa para o almoço, Joana pergunta a Dona Otília o que é banana? E não para de falar… É essa tal de banana de repente apareceu pra embolar minha cabeça, hoje foi o dia!!!! É banana pra cá é banana pra lá…

Dona Otília pacientemente inicia a prosa com a neta enquanto lembra de sua irmã que a muitos anos não via…
– É fia, você não conhece memo, vivemos por aqui sem sair pra nada desde que seu avô ganhou essas terrinha, essa vida dura, cheia de dificuldade passa sem que nós perceba, ói ma sabe que vc tá dando uma ideias boa, preciso de cumpanhia pra ir ver minha irmã que mora lá pras bandas de Minas Gerais que cum certeza tem banana, quer vim cumigo? É espreta, sabida vai me ajudar a na viagem que é longa..  vai na roça levar cumida pra sua mãe e pregunta se ela deixa…

Joana chega no canavial chamando por sua mãe que para o que está fazendo imediatamente perguntando: O que aconteceu Joana que barulheira é essa, minina? Mamãe deixa deixa deixa! Vovó me leva… eu quero conhecer bananas… sem parar a menina fala empolgada.

Maria do Céu é o seu nome, acha graça e acaba concordando pois Joana nasceu no canavial e só conhecia a aquele local jamais saíra de lá, sequer imaginava ter outra vida além daquele cotidiano duro e sacrificado…

Alguns dias depois Joana e sua avó chegam na xácara de Dona Filomena já anoitecendo após dias de estrada e são recebidas por toda a família com muito carinho, as irmãs se abraçam longamente e se emocionam após tantos anos de distância e saudades, se separaram ao se casaram, Manoel marido de Filomena permaneceu com seus pais após o casamento fazendo com que a pequena plantação crescesse, se transformando em um grande pecuarista proporcionando conforto  e sustento da família em um lugar muito bonito cheio de mato verdinho, cachoeiras, patos, galinhas, gados, queijos…  enquanto Otília foi levada com a roupa do corpo por Norton na garupa de seu cavalo sem destino até que conseguisse pouso nas terras de João da Cana no interior de Pernambuco, a pobre já chegou embuchada de seu primeiro filho que não vingou…

Como a plantação ficava distante da casa, Joana teve que aguardar o dia amanhecer sem consegue dormir…, vencida pelo cansaço da viagem acorda com o cheirinho de café torrado e pão de queijo fresquinho, pula da cama e seguindo as vozes animadas da família que acabou de conhecer os encontra no café da manhã em uma mesa farta de gente animada e de comida gostosa. Sem dar bom dia ou comer qualquer coisa Joana pergunta ao tio se vão demorar muito para sair, calma!!! Responde tio Manoel Temos todo o dia pela frente, sente-se a mesa, se alimente bem pois só retornaremos para o almoço.

Os dois saem de charrete e somem na imensidão verde afora, joana fica maravilhada ao avistar fileiras organizadas de pequenas árvores de folhas verdes largas compridas em seus troncos algo vermelho… ela desce correndo em direção a plantação, encontra os trabalhadores tirando o mato em volta, cuidando… e pergunta isso é banana? parece um coração! Sim, respondeu seu tio, é o coração da bananeira, onde nascem e crescem as bananas, tio Manoel se aproxima e toca em um dizendo: aqui por baixo estão as pencas de banana, à medida que vão crescendo vão desabrochando suas flores, desenrolando as camadas até que todas estejam aparentes ficando apenas dependurados os corações, nesse momento nós o cortamos para dar força e vida as pencas, as arvores mães vão parindo seus rebentos e morrem… nesse momento ela se lembra de sua mãe que logo vai estar parindo seu irmão… mas logo e volta a prestar atenção em seu tio que continuava a falar … dando vida a novos pés e cachos, seu ciclo de vida duram de 12 a 14 meses, uma média de 6 meses para surgir o coração e mais 6 meses para a colheita.

Eles caminham pela plantação e Joana vai observando o ciclo de vida das bananeiras, umas já adultas com lindas pencas amadurecendo e outras brotando iniciando sua jornada!

Chegando a uma espécie de galpão onde grandes cachos são separados e organizados para seguirem viagem, a menina conhece as artesãs que confeccionam doces, compotas, e vai experimentando de tudo um pouco até receber uma linda e doce banana que sem pressa descasca e se delicia saboreando mordida por mordida!

Já na estrada de volta para a casa Joana cheia de planos lembra da conversa com o seu tio, tudo o que conheceu, a beleza da plantação e da chácara, do quanto é bom fazer as refeições com a família toda reunida… de repente lembra e só aí compreende o motivo da professora chamar sua atenção, intrigada de onde e como surgiu esse termo ofensivo e o que leva as pessoas a associar a fruta ao velho, levando consigo algumas mudas, cachos e doces de banana a menina planeja onde irá começar a sua plantação e adormece sonhando com sua família feliz em um lugar verdinho, bonito e de mesa farta…