tv de tubo 29 polegadas

As loucas desventuras de uma verdade visceral… ou, simplesmente… combustão

Alan Bick de Carvalho Manso conheceu Maria dos Prazeres quando ela estava, ainda, em outro relacionamento, com Azzamor. Seu amigo de “boca de álcool”, como o próprio se referia aos pontos de encontros casuais ou combinados. Ele, Alan, era um reconhecido mestre em eletrônica e Azzamor o chamara para consertar um televisor enorme de 29 polegadas, daqueles de tubo.
– Normalmente peço pra levarem na loja!…
– Alan, acontece que estou sem carro… E a “bicha” pesa que só uma desgraça!

Parecia coisa do Deus Tino. E lá se foi, Alan até a casa de Azamor “conhecer” a Maria. Era um sábado. E quando o mesmo chegou, ela tinha ido à feira, que se armava ali perto. Azza o recebeu, todo sorridente, com duas caipirinhas nas mãos. Alan teve que pegar uma delas para poder apertar a mão do amigo:
– É pra iniciar os “trabalhos” – Disse.

Azza era um excelente criador de drinques. Trabalhara no que havia de melhor de estabelecimentos do ramo, lá pela zona sul. Contou até que teria sido bartender, quando jovem. Bartender é um profissional que atua nos hotéis, bistrôs, bares e restaurantes, de alto movimento, geralmente fazendo malabarismos com os copos e garrafas em um desempenho de show à parte:
– Esta é para a Maria… É uma excelente “alquimista” – Disse ele, forçando um trocadilho de “álcool em mim”.

Televisão e caipirinha à mesa, Alan iniciou a desmontagem do televisor “minorme”, como se referiu ao mesmo, por ser muito grande. Pouco depois chegou Maria trazendo várias bolsas. Fato que ele veria corriqueiramente no porvir. Entrou sem dar muita bola ao mesmo e passou para a cozinha.
– Amor, comprou as coisas na feira? – perguntou Azzamor.
– Que nada!… Um trânsito miserável de gente… Fui na loja da Luiza e comprei umas peças de roupas…
– Mas, e o almoço que eu iria preparar?
– Ah, depois a gente come alguma coisa lá na rua…!
– Ah, este aqui é o Alan!

Ela estendeu a mão em direção a ele e ele em direção à mão dela… Mas ficou no “vácuo”… Ela pegou foi a caipirinha que estava na mesa.
– Oi, Alan… Muito prazer!

Mas o prazer viria muito tempo depois. Nesse dia foi o que teve. A TV ficou desmontada, pois o problema era no flyback, o conversor de tensão, e Alan teria que fazer pedido. Viria de São Paulo. Saíram. Foram jogar conversa fora na “boca de álcool” do Rubens.

O tempo passou e Alan virou amigo do casal. Não foi uma vez, nem duas que fora chamado “meio que às pressas” para uma churrascada, próximo do “milharal”. Era um capim alto, talvez capim-camalote, que chega a dois metros e meio, e crescia ali do lado da varanda, que Alan chamava de milharal, pois lembrava um.

De novo, o tempo passou, e Alan cada vez se encantava com Azzamor, que além de químico também era um excelente contador de histórias e piadista. Maria também tinha os seus maravilhosos predicados, mas Azza era o máximo, uma espécie de “guru” fortuito. E Maria uma espécie de “irmã”. Não despertara em Alan nada mais do que isso.

Nem mesmo quando ela o chamou para “dar uma olhada” em seu micro-ondas. Azza não estava. Era outro sábado. Maria garantiu que o marido chegaria logo. E já tinha colocado o aparelho em cima da mesa. Ao que ele se sentou para examinar. Ela o serviu de suco e uns biscoitinhos… E, de vez em quando, vinha por detrás olhar o conserto. Ele percebeu que nessas vezes ela fazia questão de roçar o busto em seu corpo. Mas achou que fosse natural. Tão que nem “tchum”. E ficou por isso mesmo.

A amizade crescendo entre o trio e por algumas vezes, quando bebiam à noite, Alan era chamado pra dormir no sofá e a noites transcorriam tranquilas. Até certa vez… Quando voltaram da “boca” e levaram mais algumas bebidas para completar a noite! Na casa deles, beberam, conversaram… Ouviram músicas… Aliás, música… “Float On”, do The Floaters… Fala de signos zodiacais e começa com “Eu gosto de uma mulher, que ame a liberdade. E eu gosto de mulheres que sejam independentes”… Música que Azza adorava e Alan também. Pois então, essa música ficou no “repeat” à noite inteira, enquanto conversam a valer. E nesta bendita noite, quando o marido foi à cozinha preparar um petisco que ela, do nada, sentou ao lado de Alan, no sofá e disse:
– Me ajuda a salvar o meu casamento!

Dito isto, tacou-lhe um beijo à queima-boca! Rápido, mas delicioso!
– Que porra é essa? – Ele pensou.

Mas aquele beijo laborou como um peteleco no encéfalo dele, despertando-o para toda a graça e mandinga daquela fêmea, que estivera ao seu lado camuflada de “irmã”. E tudo se desvendou. O casal estava vivendo uma crise latente. Depois compreendi… Aquele fogo todo, coberto como se fora uma caieira de carvão, que disfarçavam nas noitadas com amigos. Os dias seguintes, cada um para o seu trabalho e às noites recorrentes. 

A partir daquela noite e daquele beijo, não uma pulga, mas uma perereca ficou detrás da orelha de Alan. Assim, da mesma forma, em outra noite parecida, ela veio e se escanchou sobre as pernas dele, guiando-lhe a mão para mostrar que estava sem calcinhas. Uia! Deu um “poin!” no pobre Alan.

Não teve jeito! Certo dia foram parar no motel… Eu disse parar? Não pararam! Foi maravilhoso! Onde também, entre uma “não parada” e outra, ela desfiou o seu rosário. Ah, também contou que em muitos anos jamais sentira o peso de outro homem sobre o seu corpo. Menos verdade, Alan descobriu depois, por uma amiga, circunspecto, que encontrava esporadicamente.

Algum tempo depois, ele partiu… A rumo ignorado… Mas isso fica para o próximo episódio!