A sentença

O diabo resolveu se converter ao Cristianismo. Estava cansado de espetar o seu tridente na bunda das pessoas e jogar as almas no fogo eterno. Queria agora ser bonzinho, benquisto, adorado como os santos que moravam no céu e recebiam prendas e orações dos séquitos desejosos pelas realizações dos seus pedidos. Queria agora ser elogiado pelo povo durante as missas, nos cultos, nas curimbas e até nas rodas de conversas dos bares.

Resolveu não mais se disfarçar de padre, de pastor, de pai de santo ou de qualquer outro líder religioso – o que ele sabia fazer muito bem. O problema é que durante toda a sua trajetória de capiroto, ele acabou fazendo inúmeros seguidores que veneravam suas atitudes malévolas no dia a dia, no Facebook, no Instagram… e não aceitaram a sua decisão em ser caridoso e bondoso com as pessoas e passaram a persegui-lo ferozmente.

Certo dia, quando o coitado do chifrudo estava distraído, entregando uma cesta básica a um morador de rua, foi levado por seus antigos súditos para um julgamento devido sua posição atual.

A sentença definida durante uma assembleia ficaria entre ser queimado vivo como as bruxas ou ser crucificado, e a maioria acabou optando pela crucificação.

O diabo chorou feito criança, dizendo que tinha dois diabinhos para criar e uma diaba por quem ele era muito apaixonado e que todos dependiam muito dele etc… etc.

Deus, que a tudo assistia (Deus vê tudo), resolveu se intrometer e acabar com toda aquela palhaçada, dizendo que crucificação estava fora de moda e sugeriu uma pena menos rigorosa, o que acabou sendo aceita pelos julgadores.

Seu castigo passou a ser então, emprestar seus chifres para todos aqueles que fossem traídos, seja de que religião for.

A sentença foi homologada.