jesus hospital

A peleja do Diabo com o Dono do Céu

O dia já tinha raiado e eles ainda estavam ali discutindo ainda o destino de Margareth. Naquele exato momento a equipe estava fazendo a troca. E eles ali…

Lucien estava cansado daquela lenga-lenga. Ele sabia que estava certo e que ela ia embora com ele, mas Ele, o Todo Poderoso, só o olhava com aquela cara de bonzinho. Afff. Resolveu trazer à tona mais um motivo para vencer a disputa:
– Você lembra quando ela pegou um fio e acertou as pernas dos três filhos de uma vez só? É, eles lembram! – disse Lucien.
– E você viu como eles riram ao final da história? Até eles sabem que ela tinha motivo para perder a calma e dar uma lição neles. Afinal, você estava sem o que fazer e resolveu influencia-los, como sempre! Onde já se viu jogar um pote cheio de girinos, que eles pescaram no valão, dentro do poço de água que abastecia a família e até os vizinhos!? – disse JC.
– Vossa Majestade vai ignorar quando num calor de quarenta graus ela não quis ligar o ar condicionado, deixando a filha que dormia com ela no calor?
– Você sabe que a energia custa caro e ela passava mal. Por que a filha não mudou de quarto?
– E quando ela vendeu a criação de galinhas da menina?
– Tempos difíceis que você mesmo provocou. Afinal, quem foi que incentivou o pai a ir comprar um cigarro e nunca mais voltar? Uma mãe faz o que é necessário para sustentar os filhos.
– Mas até o Godofredo ela vendeu! Era só um pinto!
– Ele ia virar um galo e parar na panela. A dor ia ser maior! Acredite, ela foi sábia!
– Chega Lucien! Ela vai para a glória e pronto! Você não tem ouvido as histórias que contam sobre ela porque você só foca no lado ruim de tudo. Caso contrário, teria ouvidos as preces para que ela seja curada e volte para seu lar. Você ouviu aquele rapaz contando que ela o ajudou quando ele arrumou um emprego e não tinha dinheiro da passagem? E olha que ela dividia o pouco que tinha!
– Quantas vezes mandei os que tinham fome e sede baterem em seu portão, e ela deu a eles quando não tinha comida, pão e água, assim como ensinei a repartir o pão!
– Chega! Vade retro, Diabo! Tenho outras vidas para cuidar e essa para levar. Essa aqui é minha e ponto final. Há pessoas ansiosas para vê-la.

J.C se encaminhou ao leito do hospital, enquanto Lucien se dissipava em fumaça colorida (parece que dessa vez ele soube perder). Olhou com amor aquela mulher, já de cabelos grisalhos, têmpora branca… Ela havia feito o seu melhor, ele não se decepcionara com ela. E agora era hora dela descansar!

Ela abriu os olhos e Ele estendeu-lhe a mão, que ela, emocionada, prontamente segurou.

– Pensei que tinha esquecido de mim! Estava fazendo hora extra na Terra – disse Margareth.

E sorriu. Ela sabia que os seus iam ficar bem, passou quase toda a vida cuidando deles e lhes ensinando a fazer o certo, a amar, a respeitarem os outros e serem responsáveis. Estava na hora de voltar para casa.

A equipe médica parou os trabalhos e se dirigiu ao leito ao som do primeiro apito. Ainda estavam se achegando quando todas as máquinas foram parando, uma seguida da outra. Não houve sofrimento. Impressionante como foi aquela passagem. Não havia o que fazer mais! 91 anos…

Era hora de chamar a família…

Uma enfermeira entra esbaforida:
– A paciente que teve alta do CTI deu à luz a uma linda menina! Graças à Deus deu tudo certo! Mãe e filha passam bem.

A vida é feita de chegadas e partidas…