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Férias inesquecíveis

Ele estava com as hemorroidas inflamadas. O médico não aconselhara aquela viagem a Porto Seguro dirigindo, porém ele só tinha uma semana de férias, mas ficar sentado durante horas no volante pioraria muito a situação, segundo o doutor. Porém o medo que ele tinha de avião era latente. Odiava voar sob o comando de outra pessoa. Tremia só de pensar nas turbulências dentro das nuvens, além do fato de que o seu DKV VEMAG estava reformado para aguentar o tranco: freios verificados, pneus novos, óleo trocado, enfim…

Pegou a mulher, os três filhos, as malas e lotou o carango que saiu lotado pelas estradas. Nos primeiros trinta quilômetros ele ainda estava bem, apesar de um certo desconforto. Sentava-se um pouco de cada lado, sempre trocando o lado da bunda para aliviar o incômodo. Com o decorrer da viagem, seu ânus começou a doer tanto parecendo que ia explodir. Deveria ter ouvido o médico, ele pensou. Porém não poderia perder aquela chance, já que férias acontecem uma vez ao ano e as suas estavam resumidas a uma semana, já que vendera o restante para bancar aquele passeio com a família e agora era o momento de usufruir daquele benefício depois que passara o ano inteiro no trabalho sentado no escritório, às vezes sem tempo até para almoçar ou até mesmo ir ao banheiro.

Na primeira parada ele saiu do carro andando com as pernas abertas (disse para a família, com vergonha, que estava com assaduras). Foi ao banheiro da rodoviária, esperou os outros usuários saírem, arriou a calça e subiu na pia para olhar como estava a situação e se deparou com uma enorme rosa rubra arroxeada. Sua sorte é que havia também uma drogaria no local, onde ele comprou uma pomada específica e encheu seu furico com ela. Tinha que seguir viagem.

Durante todo o resto do percurso sofreu muito. Suava. Ligou o rádio do carro e para disfarçar seus gemidos, fingia cantar as músicas. Sua esposa e as crianças ficaram tão eufóricas com o que parecia tanta alegria, que fizeram coro com ele e cantaram tão alto que nem perceberam suas lágrimas.

Quando chegaram ao destino final, ao pararem em frente ao hotel em que iriam se hospedar, o coitado já não aguentava mais e desmaiou. Foi retirado do carro pelos socorristas e levado ao hospital, onde ficou internado durante uma semana. O tempo exato de voltar para casa e para o trabalho.

Voltou, claro, de avião. Perdera o receio de voar. Para ele, aquele ditado: “Quem tem cu, tem medo”, perdera todo o significado.