Aleatórios campeão

veteranos basquete

– Jurema! Jurema! Cadê você? – gritava Gilberto procurando sua mulher para saber de seu filho Bruno, que faria um teste de Gramática no dia seguinte.
– Oi, mãe. Fala aí, coé.
– O teu pai está te procurando. Acho que é pra falar do seu teste.
– Xiiii, vai dar merda.
– Jurema! Jurema! Cadê você, porra!?
– Por que está tão nervoso?
– Teu filho vai fazer um teste de Gramática amanhã e tenho certeza que esse filho da puta não sabe nada.
– Não fala dele assim. E, além do mais, ele é seu filho também.
– Meu filho, meu filho. Vem aqui com o papai, vem. Senta aqui. Você pelo menos sabe quando se usa um ponto de exclamação?
– Hum, precisa saber disso? Esse eu não sei, mas de interrogação eu sei.
– Claro, porra, que você sabe. Só vive na dúvida. Mas aprenda outra forma de usar o ponto de interrogação é quando podemos usá-lo em frases diretas como “Vai à praia hoje?”, “Aceita um vinho?”. Tenho certeza que não sabia dessa.
– O ponto de exclamação é usado para indicar algum tipo de sentimento ou estados emocionais como alegria, tristeza, medo, admiração ou surpresa.
– Taquipariu! Essa porra é muito difícil. Que troço chato! – resmungava Bruno lembrando ao pai que seu teste só será na segunda e ainda faltam três dias para aprender.

A pedido de Bruno e de Jurema, Gilberto resolve dar uma relaxada com o teste de Gramática que lhes oferece uma diversão para quebrar a rotina. Jurema sugere o shopping, é claro, logo aceito por Gilberto, pois a praça de alimentação é seu alvo predileto. Chope gelado, aquela picanha ao ponto, é tudo de bom. Jurema, pensando no final de ano que se aproxima, quer trocar de aparelho de som e geladeira, e seu alvo principal eram as lojas Ponto, só que isso tudo teria que passar pela aprovação de Bruno, que de imediato recusou a proposta do shopping dizendo que já havia marcado com os amigos para assistir às finais do campeonato de basquete iguaçuano masculino entre Bracabarras e Aliatórios.

Os pais de Bruno ficaram sem entender, mas as prioridades do filho estavam em primeiro lugar. A felicidade do moleque era notória, pois encontrariam seus amigos e amigas de escola em uma final de campeonato. Gilberto concordou com o filho, mas sugeriu que depois do basquete passaria no shopping para tomar algumas tulipas de chope. Todos em comum acordo, carro na garagem, pois o pai do moleque iria beber e a preferência seria ir de ônibus. Às 16h já estavam no ponto, apreensivos, pois essa seria a primeira vez que assistiriam uma partida de basquete. Já Bruno jogava na escola. Era seu esporte preferido. Ginásio lotado, os times entram em quadra:
Bracabarras: Pai Véio, Lama Negra, Escorrega, Caipira, Sérgio e técnico Tiroteio.
Aliatórios: Lafayette, Colinha, Carlos, Jacob, Medina e técnico Ricardo Rodrigues.

Começa o jogo, clima tenso, o adversário tem um time mais jovem, as jogadas de corpo-a-corpo levam sempre vantagem, mas a experiência não pode se deixar de lado. Nossos alas estão dando muito espaço. Colinha e Jacob não conseguem acompanhar as investidas do adversário. Escorrega justifica o nome, faz cesta atrás de cesta, mas o técnico Ricardo Rodrigues faz as mexidas. Carlos e Medina passam para a ala direita e esquerda, respectivamente. Colinha de pivô e Jacob de armador, centraliza Lafayette na boca do garrafão. O time cresce em quadra. Colinha começa a dar show com muita habilidade, a bola cola em suas mãos (desculpe a redundância). Carlos, correndo mais que notícia ruim, encontra Lafayette sempre em boas condições na boca do garrafão. É cesta atrás de cesta. O ginásio pulsava, mas o time do Bracabarras é valente. A dez segundos do final da partida, eles fazem uma cesta de três pontos. No placar, 72x 69. Jurema e Gilberto estão fascinados. Não sabiam que aquele seria um dia muito especial para eles e também para Bruno, pois no time do Aliatórios tem três jogadores que são seus professores, por isso a torcida para o time visitante é ferrenha. Dez segundos, Aliatórios precisa de uma cesta de três pontos. Ricardo Rodrigues chama o time e explica:
– Eles não vão deixar nosso time trocar passes. Irão fazer a falta em dois lances. Ficaremos com a opção de dois pontos, o que decretaria nossa derrota de 72×71.
– Medina, melhor arremessador das bolas de três pontos fica na entrada do garrafão. Lafayette, melhor arremessador de bolas curtas – explica Ricardo Rodrigues.
– Tem que converter o primeiro ponto. O jogo vai estar 72 x 70. Depois é só jogar a bola no aro. Carlos, você é muito bom no rebote. Tem que pegar essa bola, passar pro Colinha, que vai estar na ala direita, e passar para o Medina na entrada do garrafão. Essa jogada não pode levar mais de oito segundos. É só arremessar e fazer os três pontos. Essa bola é mais lenta, leva dois segundos para cair na cesta.

Jogada executada com perfeição, bola na entrada do garrafão, Medina arremessa a bola batendo no aro que usa duas vezes a sua circunferência e cai suavemente na cesta. O ginásio de pé aplaude: Aliatório 73 x 72. Aliatório campeão masculino de basquete. Jurema, Gilberto e Bruno vibram. Foi por um ponto.