prostíbulo

A casa verde

A casa verde, assim chamada pelos homens da cidade pequena do interior dos cafundós do Brasil. Criaram reuniões “políticas” como desculpas para suas escapadas curtas ou longas, dependendo do dia, e assim permaneceu por anos no anonimato até que Sofia e Solange descessem do trem em um dia de domingo no mesmo horário do término da missa na única igreja da cidade. As damas se trajavam mais ou menos assim: Sofia com chapéu e vestido vermelho de renda marcante deixando a mostra suas belas e sinuosas curvas e seios fartos que quase saltavam do decote, lábios carnudos delineados perfeitamente por batom vermelho como morangos frescos e maduros e Solange (Sol como gostava de ser chamada) toda vestida de branco em um vestido simples mas que dispensava qualquer adorno deixando por conta de um belíssimo e jovem corpo, pele rosada e cabelos loiros, ambas altas não precisaram sequer descer e carregar as malas, pois uma procissão de fãs solteiros se colocaram a postos e completamente disponíveis, permitindo que as belas desfilassem livres pela cidadezinha e, obviamente, fossem vistas por todos, que curiosamente ficaram a espreita perguntando: Quem são? Para onde estão indo? Quem as hospedará?

Imediatamente sugeriram que fossem para a casa do prefeito, afinal ele é o responsável pela cidade! A primeira dama logo gritou: “Nananana não! Não temos quartos extras! Melhor falar com o delegado.” Sua mulher logo respondeu: “Lá em casa não”, mas deu como opção a cela da delegacia que estava vazia, com a condição de tirarem uns dias de férias com a família. E foi um empurra-empurra medonho, até que uma carruagem parou diante das damas que imediatamente as levou embora. O burburinho piorou quando uma das carolas perguntou: “Afinal, para onde estão sendo levadas? Quem são? Algum tipo de artista? Ah, meus Deus!” Vestidas daquele jeito pecaminoso não poderia ser coisa boa e assim ficaram por dias sem saber o paradeiro delas. Por outro lado as “reuniões políticas” aumentaram consideravelmente, ao ponto de só se ver mulheres e crianças na cidade que ganhavam tudo o que pediam de seus pais e maridos: roupas, joias, chapéus, brinquedos… Até que um dia chegou na cidade um delegado e um juiz a procura da casa verde, pois haviam sido informados que suas filha e esposa estavam hospedadas lá. O prefeito ficou mudo, o delegado teve uma crise de tosse tão grande que precisou receber oxigênio, até o maquinista deu partida no trem antes do horário. Perspicazes, os dois logo perceberam um movimento na direção da estradinha e seguiram sem dizer uma só palavra em passos largos.

Caminharam estrada adentro, enquanto as mulheres na cidade, curiosas, questionavam sobre o que seria a tal casa. Marilda fala: “Ah! Deve ser a tal reunião política os homens somem do nada e chegam felizes…” Dinorá, bem incomodada acrescenta: “É. Algo muito esquisito está acontecendo debaixo dos nossos narizes. Meu marido some e quando chega não quer comer nada. Nem banho toma, desmaiando de cansaço. Peço dinheiro, ele manda pegar o que quiser, desde que o deixe dormir em paz. As outras senhoras confirmaram acontecer o mesmo. Acharam tão estranho que decidiram ire até lá. Partiram rápido, quase correndo, alcançando os dois visitantes e assim todos juntos caminharam até avistarem um casarão VERMELHO. Chegaram a cogitar a ideia de não ser lá o local, mas os cavalos e charretes denunciavam que algo muito sério acontecia. Assim seguiram firmes, arrombando a porta e entrando. Foi uma barulheira tão grande, um corre-corre que até agora estou tentando entender. O pipoqueiro correu de vestido vermelho, todo borrado de batom, meio palhaço, meio coringa, sei lá. Era tanta farinha espalhada na mesa, galinhas cacarejando, reclamando o sumiço de seus ovos. Alguns homens de vestido, enquanto as mulheres gargalhavam enlouquecidas! A confusão foi tão grande que até agora não consegui entender o que aconteceu. Só sei que fui arrastado por Sofia e Sol trajadas de homem mata adentro.