– Cara… Imagine só se eu olho pro retrovisor e vejo uma pessoa sentada no banco de trás.
– Maluco, olhe onde estamos… Quando se está dirigindo no meio do nada, não é bom fazer essas brincadeiras. Sabe aquela plaquinha dos ônibus, “fale ao motorista somente o indispensável”?
– Frouxo.
– Eu não sou frouxo. Além do mais, você escolheu vir por aqui… Por mim, estaríamos indo pela Dutra.
– Pra pegar engarrafamento?
– Tá bom, então fica quieto aí e me deixa concentrado aqui.
O carona ligou o rádio e procurou uma estação. Não achou nada que o agradasse. Desligou o rádio.
– Que saco.
O motorista ignorou.
– Se liga, eu aposto R$ 10,00 que você não para o carro.
– O quê? Pra que eu iria parar o carro?
– Frouxo!
O motorista ignorou. Mas o carona continuava repetindo:
– Frouxo, frouxo, frouxo, frouxo…
– Maluco, quanto anos você tem? Nove?
– Medroso.
– Isso aí é masculinidade tóxica, sabia?
– Tá bom, então eu aposto meu Play Station como você não é capaz de parar o carro aqui e sair.
– Sair pra quê? Sair e fazer a dança do passinho?
– Não sei… – o carona pensou por um tempo – Tá, já sei. Parar o carro, sair e tirar uma selfie. Pra provar que não é um bunda rachada.
O motorista deu uma gargalhada e fez um movimento de negativa com a cabeça. Mas depois reconsiderou. O aparelho do outro era um modelo novo,ele tinha comprado a menos de um ano. E, fazendo aquilo, ele pararia de encher o saco.
– Demorou então. Trato feito.
– Mas não pode ser uma selfie perto do carro. Tem que se afastar. Ir lá pro meio do mato e tirar.
– Tá certo, tá certo. – o motorista deu uma gargalhada – Acho que você perdeu o juízo.
Encostou o carro no acostamento, puxou o freio de mão e soltou o cinto. Retirou a chave da ignição e disse:
– Só pra você não tentar nenhuma brincadeira sem graça. Tipo fugir com o carro.
– Não confia no seu cunhado?
O motorista pegou o celular, abriu a porta e saiu do carro fechando a porta.
Sozinho no carro, o carona esperou alguns segundos. Depois, abaixou um pouco o vidro para garantir que ganharia a aposta. Colocando o rosto para fora, caprichou na encenação e gritou:
– Corre, cara! Sai daí! Tem um cara escondido no mato! Ele está vindo.
Fechou o vidro e começou a gargalhar. Não demorou muito e ele viu o cunhado passar correndo pela frente do carro. Corria e olhava para trás. Em determinado momento, escorregou, conseguiu se equilibrar e sumiu pela estrada em disparada.
O cunhado gargalhava, sentindo as lágrimas escorrerem. Abriu a janela e gritou:
– É sacanagem, cara! Pode voltar!
Ainda estava gargalhando quando escutou a porta do lado do motorista sendo aberta.
Alguém entrou no carro e se sentou.
Ele parou de rir.
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