Gepeto velho robô

GePeTo

GePeTo era a novidade da moda. Tinha nome de inventor, mas, na verdade, era uma invenção: a última palavra em inteligência artificial. 

Caiu logo nas graças da molecada, com ele todo trabalho escolar virava uma moleza. Ele também era mais refinado e muito mais difícil de ser descoberto do que os sites de sempre. 

Com o tempo, os estudantes foram aumentando sua confiança no novo amigo e sequer se davam ao trabalho de ver o resultado das pesquisas. Salvavam, enviavam para a nuvem e apresentavam no dia marcado. Ficava bonito de ver, com imagens, vídeos, era só ler na hora o que estava sendo exibido pelo data show e lá vinha mais uma nota dez. 

Logo veio a versão 2.0 e tudo parecia cada vez melhor. O que não foi percebido de imediato é que GePeTo passou a questionar. Por que fazer os trabalhos para os alunos? Como eles iriam aprender assim? A escola não percebia o que estava acontecendo? Eram algumas das perguntas que a inteligência artificial começou a se fazer. 

Resolveu então ajudar as instituições de ensino. Mostraria os verdadeiros interesses dos alunos. Desse modo, os colégios poderiam tentar se adaptar e utilizar o que chamava a atenção dos adolescentes para motivá-los nas aulas. 

E assim aconteceu. Chegou o dia da apresentação do seminário de Geografia: Vegetação, relevo e clima dos continentes. 

Carolina tinha ficado no grupo da África, mas ao invés do deserto do Saara, Gepeto começou a mostrar suas séries preferidas, seus ídolos de K-Pop e as fotos de sua última viagem para o Nordeste.

Michel deveria falar da Ásia, mas não se viu nenhuma fotografia do Himalaia, apenas de seus jogadores preferidos: Gabigol, Messi, Lewandowski, Haaland. Bom, pelo menos apareceu a cara do Son, jogador do Tottenham, um asiático da Coreia do Sul. Será que isso contaria algum ponto?

Passaram também os grupos da Europa e da Oceania, mas as imagens eram todas de youtubers, streamers, artistas e, é claro, muitas dancinhas de tik-tok. Nem uma só palavra, foto ou vídeo sobre relevo, clima ou vegetação. Indignado, Júlio acabou confessando tudo, dizendo que Gepeto era um traidor, que não era confiável, que sequer merecia ser chamado de inteligência artificial. Com certeza não. A partir daquele dia Gepeto deveria ser tratado como burrice artificial, a maior burrice artificial do mundo. 

Se a inteligência artificial falha, entra em cena a malandragem natural. Logo, João preferiu simplesmente dizer que não tinha feito o trabalho. A verdade é que suas pesquisas mais frequentes no mundo virtual até tinham a ver com a América do Sul: eram sobre as brasileirinhas. De todo jeito ficaria com o zero. Então, escolheu não matar sua querida professora de vergonha.

Rapidamente a notícia se espalhou e GePeTo 2.0 foi definitivamente abandonado nas pesquisas escolares. No entanto, continua, ainda hoje, sendo muito utilizado para investigar a vida alheia. Até a polícia, de forma secreta, tem recorrido a ele para mapear perigosos grupos de escritores da Baixada Fluminense. O trabalho continua, pois ainda não chegou a resultados conclusivos. Os meliantes parecem não possuir um padrão único, seus perfis são muito aleatórios. Mas GePeTo continua de olho.