cueca vermelha

Nudez dupla

Estava andando na rua com a Adalgisa, sua noiva, quando de repente parou e disse:  

– Que saber de uma coisa, querida? A partir de hoje, até às eleições, vou andar só de sunga para onde quer  que eu vá!  

– Que maluquice essa é essa Valdomiro? – perguntou a noiva sem entender nada.
– Calma amor, eu explico – disse ele na maior tranquilidade do mundo.
– Se Anita pode declarar o seu voto do jeito que ela quiser, vestida ou com pouca roupa, por que eu não?

A noiva diante de toda aquele absurdo perguntou novamente, mas já sem a costumeira paciência:
– Que maluquice é essa Valdomiro?
– Quero chegar às eleições de corpo limpo, de alma lavada de todas as impurezas do Governo do “Capeta”  – era assim que ele costumava chamar o atual presidente.

Adalgisa não queria acreditar na loucura do noivo e mais uma vez perguntou:

– O que você bebeu no bar, homem de Deus? 

Ele não disse mais nada. E diante de uma Adalgisa atônita, sentou no meio-fio e começou a tirar os  sapatos, as meias, camisa, calça e ficou só de cueca. Cantarolou uma canção qualquer, tentou puxar Adalgisa para dançar, mas ela se desvencilhou de seus braços bruscamente. Então dançou sozinho. Quem  passava pela rua e via aquela homem de cueca vermelha e com uma marca enorme de “freada” na altura da bunda, dançando feito uma bailarina, dava uma risadinha e depois dizia: 

– Mais um maluco na praça que pensa que faz parte do showbiz

A pobre da noiva morrendo de vergonha daquele dantesco espetáculo, se mantem a distancia.
– Alguém conhece esse maluco? – Pergunta um passante rindo muito.
– Nunca vi na minha vida! – responde ela com olhar de paisagem.
– Mentira! Ela é minha noiva! – Grita ele bem alto, para o desespero de Adalgisa e o deleite do grupo que já se aglomera ao seu redor.  

Desmascarada, Adalgisa não se faz de rogada:
– É verdade, esse maluco é meu noivo e para ser solidária a ele, eu também vou tirar a roupa e ficar só de  calcinha. 

Todos olhares se voltam para Adalgisa.
– Quem vocês preferem ver, eu de calcinha ou ele de cueca? – pergunta ela para a multidão.
– Você de calcinha! – responde em coro a pequena multidão de homens e algumas mulheres. 

Um sacana cantarola uma música erótica. Adalgisa inicia uma dança sexy. O primeiro botão da blusa é liberado. A multidão vai ao delírio e grita:
– Tira, tira tudo!

Valdomiro entra em pânico e repreende a noiva:
– Você tá maluca, Adalgisa?
– Se você fica doido de repente, por que eu também não posso ficar?

Libera o segundo botão. A multidão em êxtase espera o próximo, apreensivamente. Valdomiro não suportando mais aquela situação, abre o jogo: 

– Eu não estou maluco, não. Eu perdi uma aposta no bar e estava só pagando.

Aponta para um canto da rua aonde um grupo de amigos se divertem com a situação.
– Seu babaca, veste a sua roupa e para de fazer vergonha.
– Por que parou, parou por que ? – reclama alguém à Adalgisa.
– Quer ver mulher pelada ? Vai pra internet, seu babaca – responde Valdomiro muito puto.

Os dois vão embora e a multidão se dispersa decepcionada.

Mais a frente Valdomiro não se contém e pergunta a Adalgisa:
– Você ia mesmo tirar a roupa?
– Se você não dissesse a verdade eu iria fazer a alegria de toda aquela gente.
– Só se eu fosse doida – Pensa ela cinicamente.