Closet

À flor da pele

Catarina, como toda jovem senhora e avó, preocupava-se em orientar bem a única neta, para que esta soubesse como se portar em sociedade, como convinha às mocinhas sérias e de família. Assim, para ela, as roupas sempre foram parte importante da boa apresentação em público, principalmente quando uma mulher quer ser levada à sério. Afinal, os homens diferenciam a partir da roupa a mulher que é para casar e a que serve apenas para a diversão.

Como tinha melhores condições financeiras que o único filho, Catarina fazia questão de se ocupar de quase tudo do que a neta precisava, principalmente das roupas. Eram de boas marcas, tecidos de qualidade e assim saciava a sua paixão ávida por plissados, mangas bufantes, golas altas, cores e caimentos perfeitos, tudo o que valorizasse e principalmente cobrisse o corpo pré-adolescente da menina que despontava moça em botão.

A mulher tornou-se avó com apenas quarenta e dois anos, um emprego de caixa de supermercado e muitos segredos. Porém, em cinco anos, promovida ao cargo de gerente, conseguiu ascender na carreira, adquirir sua própria franquia do estabelecimento e realizar o sonho do guarda-roupa da moda, para ela e, é claro, para a neta. Roupa adequada para o trabalho, igreja, passeios e repartições públicas. Até para as festas havia de se chamar atenção pelo que é velado e não pelo que é revelado. Era a realização completa.

Mas, sem que se esperasse, num final de uma tarde chuvosa e trivial, a neta chegou em casa derramada em um prato contínuo e envergonhado, enquanto o pai praticamente a trazia da escola pelas orelhas. Imagine só! Encurtava a saia do uniforme, dobrava a camiseta até ficar com o top à mostra, e, depois de se encantar e de enviar nudes para menino mais popular do oitavo ano, caiu na rede. Suas fotos foram vistas por todos da pequena escola municipal do bairro e, é claro que a direção, de cabelos em pé em direção a Deus, chamou o responsável para uma conversa.

A jovem avó chorou junto com a menina e de imediato foi buscar a transferência para que a neta fosse estudar em outra escola próxima. O dia terminou juntamente com a chuva, com um pai transtornado e aborrecido, com uma menina de castigo por um mês e com Catarina, por uns instantes, vendo replicar na memória mais coberta, a cena de quando, na adolescência, foi flagrada nua com um colega de turma no vestiário da escola. Lembrando também de forma dolorida, de um acidente na cozinha de casa que lhe queimou severamente a pele na juventude, exigindo roupas que lhe cobrissem as marcas e cicatrizes que se juntavam àquelas que já possuía além da epiderme. Enxugou os olhos em um gesto rápido. Tudo passa logo e certamente todos esquecerão rapidamente a nudez da mocinha, assim como esqueceram a sua. A vergonha é roupa curta. E para ela, é suficiente um belo closet e uma variedade de superfícies coloridas. Afinal, é de superfícies que somos feitos.