Clique aqui e ouça o conto X do problema em áudio
Dona Genoveva Sirici é dessas senhoras distintas que só se dão ao disfrute de copular uma vez por mês, mesmo assim no dia 31. Situação responsável pelas desavenças em casa… O parceiro reclama dos finalmente, argumenta a necessidade de alterar a data, pois nem todo mês conta com 31 dias. Ademais, a moralidade encontra contorno na cabeça de Genoveva. Na hora de transar nada de beijo na boca, sexo oral jamais… Só vale papai e mamãe, num lençol branco com um buraco no meio.
A posição da mulher dificultou o crescimento da família. Tem apenas uma filha única, chamada Berenice. A filha, criada de forma rígida, pouco fala, evita discussão, nunca xinga palavrão.
O grilo coça, o calor sobe a cabeça, a imaginação dispara… Num desses calores, a pudica perdeu a virgindade no retiro espiritual. Arrancou a roupa de madrugada, deu uma chave de perna no irmão da igreja e acabou ficando grávida. O rapaz, Gervásio dos Santos, muito religioso, temente a Deus, assumiu o rebento e juntou os trapos com Berenice. Casaram antes da barriga brotar na nuança do vestido longo.
Gervásio encerrou o curso de técnico em eletrônica, indo trabalhar numa multinacional do setor para sustentar a família. Na fábrica constatou a luta de classes, a estrutura do sindicato da categoria. Sindicalizado, tornou-se um líder dos operários. Em prazo curto, ganhou a eleição pra presidente do Sindicato dos Operários da Eletrônica. Fez carreira, muito discurso. Mas os anos passaram, perdeu o emprego e o cargo na representação de classe. Desempregado, no entanto politizado, discurso afinado, surfou na onda da internet e sagrou-se influenciador digital. Com canal na rede social, repleto de seguidores, viajou nas ideias revolucionárias, saiu da igreja, comprou uma minissaia pra companheira, deixou o cabelo crescer e ficou moderninho.
O X do problema era a principal proposta de Gervásio, o militante defendia a legalização da prostituição, a fundação do Sindicato Nacional das Putas, tendo por lema: “Respeite quem te proporciona prazer!”
A sogra entrou na discussão, mobilizou os crentes, visando à defesa da tradição, da família, da castidade, da propriedade privada e do sexo exclusivamente pra procriar.
Gervásio, nas suas andanças, deparou com o passado da sogra, descobriu a profissão antiga da mãe da esposa. Conhecida na zona, onde ralou a perseguida, pelo vulgo de Gege da Siririca… Resgatada, no inferninho, pela bondade do pai de Berenice. Um segredo guardado a sete chaves…
O genro ocultou o desvio de caráter da ilibada, encostou a velha na parede, chantageou a falsa moralista; almejava ao fim da oposição da piranha aposentada. Todavia, a consequência veio a jato… A sogra envenenou o genro com chumbinho, calando o delator para sempre.
Berenice ficou viúva, voltou à igreja, retomou a castidade; toma banho frio, vive a base de calmante, entretanto não toca siririca, pois a mãe, agora pastora Genoveva, afirma ser pecado.
Pobre do Gervásio. Poderia ter ficado na dele e estaria até hoje brigando pelo S.N.P. Parabéns pelo Conto. Muito criativo.