Carlos hoje em dia é conhecido como o Cartola de Austin. O que muita gente não sabe é que seu apelido, na época de escola, foi Unicórnio, ou simplesmente UNI. Acontece que, quando garoto, tinha o rosto repleto de espinhas, sobretudo nos períodos de maior ansiedade, como início de ano letivo e na época das provas bimestrais.
Certa vez, quando estava na sétima série, nasceu uma espinha enorme, bem no meio de sua testa e Marcos, o garoto mais forte da turma, tascou o bullying, mesmo que na época ninguém chamasse assim:
– Olha lá, chegou o Carlito Unicórnio. Melhor não sentar na frente pra não furar o quadro-negro.
A risada foi geral. Carlos, franzino que só ele, nem pensou em responder à humilhação. Logo, a tendência linguística da redução se impôs e boa parte da turma só o chamava de UNI. A esperança de Carlito era que o povo cansasse. E de fato o povo cansou, mas Marcos não.
No terceiro ano do segundo grau, hoje ensino médio, Carlos já dominava o violão, tinha ficado popular pela linda voz e praticamente não tinha espinhas. Mesmo assim, o inoportuno colega de classe era o único que insistia na alcunha:
– Fala, UNI! Toca aquela, UNI! UNI, me passa a matéria da prova?
Você sabe o significado da palavra ranço? Pois é… Embora nunca tivesse discutido com Marcos, o ranço que Carlos nutria era muito maior do que a malfadada espinha de anos atrás. Após a conclusão da escola, os colegas nunca mais se viram. Marcos se mudou para Japeri e sumiu, mas o ranço não, ficou lá sendo silenciosamente nutrido, anos a fio, pelo resiliente Carlos.
Já habilidoso na música, Carlito começou a tocar nos barezinhos de toda Nova Iguaçu. Rua da Lama, Baixo Pedreira, do Caonze ao Km 32, de Morro Agudo a Miguel Couto. Não demorou para montar a sua própria roda de samba. A grana não era tanta, mas isso não o impediu de dar uma força para outros amigos sambistas.
Com a vida de artista, Carlos optou por se manter solteiro. Gostava da sua liberdade. Volta e meia, quando a cantoria terminava, conseguia garantir uma boa companhia. Mas não enganava ninguém, deixava sempre claro que não queria compromisso, topava quem quisesse.
Foi com essa conversa que conheceu Carla, após tocar numa festa em Engenheiro Pedreira. A moça disse para Carlos não se preocupar. Marido ela já tinha, ela queria era um homem. O esposo tinha um bar e ficava sempre preso no trabalho, só fechava de madrugada, nunca podiam sair juntos, curtir um bom programa. O único jeito que ela tinha era arrumar um outro acompanhante para se divertir.
Com um sorriso repleto de sarcasmo, Carla fez questão de mostrar a foto do corno. Inacreditavelmente, o marido chifrudo era Marcos. A madrugada de Carlos foi bem animada. E no dia seguinte, o sambista trocou o ranço que tinha, em relação a Marcos, por um certo sentimento de pena… mas nem tanto.
Excelente! Divertido!
Obrigado meu amigo. Grande abraço