rosa

Uma rosa para Melissa

– Caminho alguns passos, olho para o lado, “Aplausos” admiração, gritos histéricos, olhos ávidos, bocas aguando! Deslizo sobre passarelas, “Holofotes” luzes, Quimeras alimentam a esfera de minha vaidade…
– E isso não a conforta mais? – Pergunta a psicóloga atenta.
– Nunca fora confortante! – Ela responde, depois de um longo silêncio, e continua – Talvez lá, na adolescência, ainda menina, sem saber como seria! Fetiches, fantasias! Ela olha pro nada e respira. Jamais suporia essa realidade. Tudo que eu queria era ser livre, fazer coisas simples, comuns… Na verdade – ela repensa – eu só queria o Allan. Só ele.
– Mas esse, Melissa, já é um outro assunto. Não tem nada a ver com a sua carreira – Intervém Teresa, a psicóloga.
– Tem sim! Allan é um homem simples, detesta essa vida que eu levo! – Ela suspira –  Devia te largado os palcos, as passarelas, por ele!
– Ainda há tempo! – Aconselha Teresa.
– Não mais! Ele casa amanhã!

Melissa Lins se despede da psicóloga e segue direto para o sitio da família. Não queria estar na cidade no dia do casamento do Allan. Joel aproveita que Teresa deixou o consultório para um café e sai de trás da estante que lhe servia de esconderijo. Parecia loucura. Tanto tempo agachado só para ficar um pouco mais próximo de Melissa. Mas ele era louca por ela. Abriu mão de uma boa colocação no hospital da cidade para servir cafezinho naquela clinica desde que vazou na imprensa a informação que a sua musa se trataria lá.

Quando chegou no estacionamento, o carro de Melissa já havia sumido na poeira, mas Joel estava preocupado com o que ouvira no consultório. Ela estava infeliz e ele precisava ajuda-la! 

Sabia tudo sobre a vida de Melissa, todos seus endereços e amigos. Logo, foi fácil encontrar Allan em um shopping cortando o cabelo. Se aproximou do rapaz dizendo que a noiva dele havia ganho um book fotográfico na promoção do shopping e o aguardava para as fotos em um sitio a trinta minutos dali. Allan achou tudo muito natural e acompanhou o rapaz sem questionar. Já no carro, Joel leva um lenço embebecido em éter ao nariz de Allan, que apaga imediatamente.

Melissa não entende nada quando vê o rapazinho do café adentrando o sítio da família com Allan nas costas. A princípio acha que foi um acidente. Só depois compreende a loucura! Depois de muita água gelada, Allan volta a realidade. Primeiro quer matar Joel, depois prendê-lo, mas no final atende às súplicas de Melissa e o deixa ir.

Na semana seguinte, Melissa segue para mais uma temporada de desfile; talvez a última! No entanto, ela não estava pronta para o que viveria ao pisar na passarela. Pessoas saídas de vários lugares gritavam: “Policia! Ela é criminosa!”, “Cadeia para Melissa”. Os protestantes exibiam fotos de Allan desmaiado em seu sítio. Pela primeira vez haviam muitas vaias ao invés de aplausos. Melissa recua, experimenta um afastamento de si, como se estivesse assistindo tudo aquilo por uma lente, como se estivesse a quilômetros daquele lugar. Um filme passa por sua mente.

“Flashes”, pernas, curvas! Olhar atento, entre tantas pupilas que brilham.
Como falso brilhante, com falsa alegria, Como tudo que é falso,
Desde o estrelismo a adoração, fanatismo.
Alguém vem em seu socorro, a leva ao camarim. Melissa Lins, recebe triste o fim!
O fim das passarelas, dos holofotes, dos aplausos.
O estrelato se despede, desce o palco, deixando-a com a sua anônima realidade.
Lá, bem lá no final, com uma rosa, só Joel a esperava.