caveira chifres

Uma caveira iguaçuana

Era uma vez uma caveira. Ela estava injuriada devido ao fato de todo mundo na escola de medicina ficar tocando nela. Era no fêmur, no cóccix, no úmero, nas costelas e principalmente no osso frontal do crânio, tudo porque ela possuía duas grandes protuberâncias muito evidentes naquele local. Chegou a um ponto em que ela não aguentava mais e fugiu. Para não ser reconhecida, ela entrou na C&A e comprou um chapéu coco, uma cueca roxa e uma camiseta com slogan de uma caveira, escrito ‘Made in China’. Entrou na Impecável Maré Mansa e adquiriu um terno e uma gravata e, por fim, comprou um sapato de bico fino, que estava na vitrine da Sapasso.

Saiu toda arrumada, pois era uma caveira de classe média e sempre foi muito vaidosa, desde o tempo em que seu corpo de carne, músculos e alma, transportavam os seus ossos, ainda protegidos pelos estudantes de Medicina.

Ela sempre morou em Nova Iguaçu, desde o tempo em que ainda era uma pequena caveirinha. Depois que cresceu, começou a escrever poesias e contos. Participou de eventos e, como todo esqueleto que se preza, participou de diversos eventos na Baixada e no Grande Rio. Durante esse tempo, ela conheceu o Moduam, Colinha, Charlene, Bollmann, Janice e o Medina. Era uma caveira até gente boa, durante o tempo em que estava viva. Hoje, sendo apenas um objeto de estudo, estava saturada. Queria apenas virar pó e seguir o seu caminho rumo ao céu ou ao inferno. Porém, certo dia, ela ao entrar na livraria Sebo Ponte Literária do famoso livreiro Eudes, para comprar o livro O VERSO DA ESCRAVIDÃO, do escritor Marcel Peixoto, conheceu um rapaz chamado Carlos Mendes, que a convenceu a participar de um grupo de contos chamado ‘Aleatórios’ e que o tema a ser desenvolvido estaria entre ‘Terror’ e ‘Corno’. Ela não titubeou, até porque, quando ela era viva levou muito chifre, por isso essas protuberâncias, hoje estudadas pela Medicina. Quanto ao tema: ‘Terror’, ela escreveu esse conto, para assustar a todos, para quando ela se revelasse ao Grupo, durante o Sarau, até porque, caveira não escreve contos e ela só estava ali camuflada no meio da turma.