Mais um dia na difícil jornada de Maria de Fátima, mãe solo, negra, enfermeira e uma guerreira como tantas outras como ela. Sua mãe é o seu sustentáculo e a ajuda a cuidar do ser mais precioso de sua vida, sua filha. As três moram em uma pequena casa de dois quartos no subúrbio da cidade e lutam basicamente para serem felizes, apesar das adversidades.
Fátima (como gosta de ser chamada) acorda antes do sol nascer. Ela se levanta silenciosamente para não acordar sua filha, Sofia, que dorme tranquilamente ao lado da avó. Ela prepara o café da manhã e deixa um bilhete carinhoso para Sofia, prometendo que estará de volta em breve e sai para enfrentar um plantão de 24 horas na maternidade onde trabalha.
As seis horas da manhã ela chega e o hospital está tranquilo, mas ela sabe que o dia será longo. Ela veste seu uniforme e se prepara para o plantão e não tarda a chegar a primeira parturiente. Fátima segura a mão de uma jovem mãe, oferecendo palavras de encorajamento. O bebê nasce saudável e a sala se enche de alegria. Ela sente uma onda de felicidade ao ver a nova família unida e se fortalece para seguir adiante.
Pouco antes do almoço, a supervisão geral do hospital reúne toda a equipe para anunciar a aposentadoria da enfermeira chefe da maternidade e anunciar o substituto. O coração de Fátima já não bate, apanha, tamanha é a sua expectativa, pois ela é a enfermeira mais experiente do setor e há muito almeja essa promoção. Entretanto, para a sua frustação, um enfermeiro branco, com menos tempo de casa que ela, mas primo de um dos médicos da casa, é indicado ao cargo. Ela desaba e vai buscar apoio fora daquele ambiente.
Aproveita a hora do almoço para ligar para casa e, ao ouvir a voz de sua mãe, não consegue segurar o seu choro e mal consegue falar:
– Minha filha, nós não podemos ter tudo que desejamos ainda, mas temos o suficiente para viver e principalmente temos saúde e temos a Sofia que nos alegra diariamente. Levante sua cabeça e volte ao trabalho que estamos aqui lhe esperando.
A mãe passa o telefone para Sofia, que conta animada sobre o desenho que fez para a ela. A ligação lhe dá a força que precisa para continuar o dia.
No meio da tarde uma emergência chega à maternidade. Uma mãe em trabalho de parto prematuro precisa de cuidados intensivos. Fátima e a equipe médica trabalham rapidamente para estabilizar a mãe e o bebê. É um momento tenso, mas a experiência e a calma de Fátima ajudam a salvar vidas.
No início da noite Fátima sente o cansaço começar a pesar, mas ainda há muito trabalho a fazer. Ela ajuda em mais dois partos, cada um com suas próprias emoções e desafios. Em um deles, a mãe enfrenta complicações e Fátima precisa lidar com a tristeza de uma perda.
A noite avança e ela, finalmente, encontra um momento de tranquilidade. Ela reflete sobre o dia, sobre as vidas que ajudou a trazer ao mundo e sobre a dor que presenciou. E percebe a benção de ter uma família feliz e saber que seu trabalho é importante, mesmo nos momentos difíceis. Faz uma ronda pelos quartos, verificando as novas mamães e seus bebês, oferecendo palavras de conforto e apoio, lembrando-se de sua própria experiência como mãe. Cada sorriso e agradecimento a enchem de gratidão.
Os primeiros raios de sol começam a aparecer no céu e o seu plantão está quase no fim. Ela se despede da equipe e volta para casa, exausta, mas satisfeita. Ao chegar, encontra Sofia acordada, esperando por ela com um abraço apertado. Fátima sabe que, apesar do cansaço, valeu a pena cada segundo daquele dia e agradece por ter uma família feliz.
Parabéns pelo belo texto !!!👏🏼👏🏼👏🏼