Tudo é belo, quando se quer

Talvez bem poucas pessoas deem a essa cidade o valor que ela tem, pelo que possui de mais saudável e pitoresco.

Muitos – isso é natural – só encontram encantos em lugares onde existe o mar, as praias, cassinos, teatros, luxuosas sorveterias.

Preferem a agitação noturna e multicor das metrópoles iluminadas à calma de uma tarde serena e mansa entre os laranjais, alegram-se mais no reboliço das praias, no contato com a areia quente, do que à sombra fresca de uma árvore amiga; encantam-se mais com o rebentar espumante das ondas, que propriamente com o cantar dos pássaros que aqui fizeram seus ninhos; trocam a cor escura do asfalto, por onde desfilam os automóveis, pelos lugares onde as orquídeas exibem o azul das suas pétalas, e a água nasce límpida, umedecendo a terra escura, fértil e nua.

Há, de fato, quem abandone tudo isto e saia à procura de outras paisagens, de outros cenários, como se aqui nada houvesse e fôssemos completamente desprotegidos naquilo que a natureza possui de mais belo.

Mas ah! Como se enganam!

Como se iludem os que aqui não se criaram!

Na manhã saudável do dia de hoje, longe do burburinho do Rio, vendo o céu tão azul e tão bonito, sou obrigado a reportar-me à infância em que, de pés descalços e braços nus, corria pelos morros e campinas em busca de pequenas aventuras. Atirava-me por estas terras em fora armado de apenas um estilingue, a inimiga dos tizius. De quando em quando, enjoado das caçadas, procurava variar. Ia então à cachoeira, situada na encosta de um dos morros que cortam essa cidade.

Que coisa bela!

Desde o primeiro instante que lá cheguei, impressionei-me.

Agradável não era somente o marulhar da água provocado pelas sucessivas quedas. Não era somente isso que me enchia o coração. Gostava também de sentir o seu sabor. Apreciava a sua límpida transparência que deixava ver, no fundo, os vermelhinhos peixes que nadavam inquietos. Sobre a água, em voos seguidos, eram as borboletas azuis, de asas brilhantes. Pousavam nas margens. Levantavam voos novamente. Subiam, ganhavam altura, para depois descerem num tremeluzir de cores!

E que vontade de apanha-las!