Ao meio-dia de um sábado ensolarado, em um ponto de táxi, Léia parecia prestes a explodir. Andava de um lado para o outro e se sacudia toda, não conseguia ficar parada. Tamanha indignação!
– Ora, vê se pode? – Ela pergunta em uma retórica, enquanto balança as pernas, os ombros, a cabeça e por fim o corpo todo.
Havia discutido, e feio, com Ítalo. Durante a discussão, entre muitas coisas, ele dissera que não precisava dela. Que era capaz de administrar a vida sozinho. Que ela não era insubstituível. Mas antes… Ela tinha dito que ele era um inútil… Que sequer conseguia amarrar os próprios sapatos. Sim!… Ela disse!… Um pouco depois de ele citar o seu irmão, dizendo que era vagabundo e cachaceiro, que não cuidava da família.
Mas… Antes, ela também falou da cunhada… Bia, irmã caçula do marido, uma jovens de vinte anos… Ela disse que o “meio de vida” da moça era namorar sessentões cheios da grana. Sim, ela disse em alto e bom som… Logo após ele dizer que ela não tinha o direito de abrir a boca para falar de sua família.
Falou com raiva. Porque, um pouco antes, Leia falara que Moema, a filha de doze anos do casal, puxara a banda podre da família… A do lado dele! Isso, porque antes Ítalo disse que ela precisava cuidar melhor da educação e alimentação da filha; que a menina passava horas demais deitada ou comendo, sem que ela se preocupasse com isso. Ele falou isso sim… Falou! Foi no momento em que Léia, distraída na arrumação do quarto, o chamou para ver um achado, o álbum de fotografia. Sorrindo desfolharam, felizes, o álbum, reviveram lembranças, memórias… Hora ele de noivo… Hora ela grávida… Hora com a pequena Moema no colo… Foto de meses, do primeiro ano!
– Moema! – Ele suspira! – Linda a nossa princesa! – Comentou emocionado!
– Linda! – Concordou Léia. – E já vai fazer treze anos! Uma moça!! – Completa sorrindo.
– Por falar nisso, querida, você precisa dar mais atenção à alimentação de Moema… Essa menina só come e dorme, não lava um prato! Você precisa educá-la melhor.
Ponto! Foi aí que tudo começou…