Eu tinha acabado de acordar quando minha mãe irrompeu pela cozinha e perturbou o equilíbrio perfeito do meu silencioso café da manhã. “Você tem um encontro hoje” disse ela, segurando-se para não dar pulinhos como uma menina ansiosa de quinze anos. Revirei os olhos. Toda semana ela tentava marcar um encontro novo. “Desse jeito vou achar que você quer se livrar de mim”, eu respondi ácida. Se eu realmente quisesse um encontro, faria como qualquer pessoa normal e deslizaria o dedo pela tela em algum app de relacionamento que coloca pessoas numa prateleira de opções à mercê de juízos parciais. Nesse caso, minha mãe era o próprio aplicativo e ficava tentando criar combinações até encontrar o match perfeito.
“Quem é ele?”
“Ah, é filho da Luzia. Você a conheceu no meu aniversário passado” adiantou-se em dizer diante da minha expressão de confusão. É claro que eu tinha conhecido. Eu conhecia todas as amigas da minha mãe. E os filhos delas. Mas, era bem menos exaustivo me fingir de maluca do que dar trela para essa conversa insana. Meu Deus, eu por acaso colei chiclete na cruz?! “enfim, ele é um bom menino” [todos eram] “inteligente, bonito, simpático e vive com a cara enfiada em livros, igual a você” [se começou como um elogio, eu tenho certeza que o final foi uma crítica].
“Ok, mãe. O que você não pede que eu não faça chorando?” abri um sorriso amarelo. Eu sabia que aquela era a linguagem do amor dela por mim. Estava preocupada porque a filha de 36 anos dividia o dia entre livros e o trabalho. É claro que ela nunca aceitou o fato de que talvez eu estivesse feliz vivendo assim. Uma vida de solteirona feliz era inconcebível a ela. Então, uma vez por semana, eu era jogada na jaula dos leões e vivia um show de encontros horrorosos.
Senti vontade de voltar pra casa imediatamente após deixar para trás o sorriso forçado de minha mãe e seus joinhas de encorajamento. O estômago estava embrulhado. O início de um encontro é sempre esquisito. Cumprimentar com beijo no rosto ou com um aceno? Qual assunto puxar para quebrar o gelo? Fora o sorriso que fica congelado no rosto a ponto dos músculos terem câimbra.
Entramos no restaurante que ele escolheu. Pedimos uma macarronada e lembro-me de ter pensado no absurdo que era pagar R$67,00 em um prato que eu poderia estar fazendo em casa. Decidimos por um vinho. Eu queria Merlot e ele pediu um Sauvignon Blanc. Disse que vinho tinto não combinaria com o prato que pedimos. Concordei sem dizer uma palavra. Entramos na literatura e o bonito começa logo com uma aporia: “E Capitu, traiu ou não traiu o Bentinho?” “É claro que não” respondi de golpe. “Sério? Só falta dizer que Bentinho era maluco e inventou tudo aquilo?” Falou ele em tom sarcástico.
Pelo início do encontro, dava pra ver que a noite seria longa. Merda.
“Eu devia ter pedido o Merlot.” Balbuciei entre um suspiro e outro.
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