O desespero das mães era a alegria das crianças quando se ouvia bem longe o carroceiro gritando:
– Está passando na sua rua a carroça do pintinho. Quem tem garrafa, panela velha, garrafão ou ferro-velho? Venha, venha trocar por pintinho!!! Tem pintinho de todas as cores, verde, laranja, azul, vermelho e rosa.
Essa era a senha para a criançada partir para o quintal e garimpar tudo que encontrasse pela frente que pudesse ser trocado por filhote. Quando não encontravam nada, para desespero das mães, invadiam a cozinha, o banheiro e todos os lugares da casa onde tivesse alguma coisa para trocar. A coitada da mãe tinha que se virar nos trintas e sempre dava um jeito de não frustra o filho. De posse de garrafas, ferro-velho ou qualquer tralha que valesse um pintinho ou mais, a criança saía correndo pela rua atrás do carroceiro.
O carroceiro sempre se aproveitava da inocência das crianças para trocar os filhotes por um número maior de objetos. Dizia sempre que, dependendo da cor, cada filhote valia determinada quantidade. As criança abarrotavam a sua carroça com ferro-velho, garrafas… e recebiam do carroceiro no máximo dois míseros filhotes. Mas a meninada saía correndo feliz de volta para casa, com seus pequenos tesouros nas mãos.
As meninas, geralmente mais amorosas, adotavam os pequenos seres como filhos. Faziam uma casa bem acolhedora com caixa de papelão, forrada com tecidos cedidos pela mãe, que depois de todo desespero inicial, ficava observando orgulhosa a filha brincando de ser mãe, centrada e cuidadosa com os filhotes. Comidinha no bico, caminha de palha e lâmpada acesa para aquecer os pintinhos eram os cuidados que ela tinha para mantê-los vivos.
Mas, infelizmente, no dia seguinte, nem todos sobreviviam e a menina caia no choro. Só ficava mais calma quando a mãe prometia fazer um enterro digno para ele. Numa pequena caixa o corpo era colocado; No fundo do quintal era enterrando, coberto de flores pela menina, que chorava como se despedisse de um filho querido. A mãe, para fazer a filha esquecer daquele momento triste, levava ela numa sorveteria, pagava o sorvete mais caro e delicioso que a filha gostava, e fazia de tudo para distraí-la.
Quando voltavam para casa tudo era esquecido e a menina, mais tranquila e feliz, só pensava em cuidar dos pintinhos que restavam.
Lindo conto, que exala memórias afetivas com leveza e beleza. 👏
Obrigado,meu amigo.
Tirando a parte do sorvete, sua história me trouxe lembranças da minha infância. Passei por todas as etapas e cuidados com meus pintinhos coloridos.