– Depois do intervalo você vai ver o quadro Sonho Malucooo, com Mara Maravilha. Viva a Noiteee!
O apresentador Gugu Liberato acabou de fazer a chamada para o quadro em que eu apareço realizando o sonho de acampar com a Mara. Estamos em camarins separados, esperando para sermos chamados ao palco. Guardo no bolso um presente que eu trouxe pra ela. A produtora me chama e aguardo nos bastidores, esperando pra entrar. Do outro lado, a Mara também espera. Mais uma vez, não consigo falar com ela a sós.
Antes naquela semana, fui chamado pela produção do programa para gravar o quadro na Serra da Cantareira. Mandei uma carta, fui sorteado e agora poderia realizar meu sonho. A produção me pegou cedo em casa, me colocou em um Escort conversível e me fez buzinar em frente ao que seria a casa da Mara. Mas ela não morava ali. Minha musa apareceu na sacada, desceu e entrou no carro. Enquanto a equipe nos acompanhava, fomos fingindo que estávamos conversando e reagindo as instruções deles. Gravamos cada cena pelo menos três vezes. Mal trocamos palavras até chegar no lugar da gravação. Queria ficar a sós com ela, entregar meu presente, mas sempre tinham outras pessoas por perto.
Montei a barraca enquanto ela fingia que preparava um churrasquinho. Mara se sentou ao meu lado, me deu o espetinho na boca e falava coisas sem sentido, só pra parecer que estávamos conversando na gravação. Montada a barraca, entramos nela. Tirei suas botas e ficamos lado a lado, deitados de bruços com o rosto virado para a entrada da barraca. Fingi fechar a porta da barraca com o zíper e depois a barraca desmontou com nós dois dentro, de um jeito fake. Seguíamos as instruções do diretor, até o último take, que terminava com a gente saindo da barraca. Mais uma vez, não deu pra conversar com ela, já que a equipe começou a desmontar tudo para irmos embora. No meu sonho, eu entregava o presente a ela e a gente se casava.
A produtora diz que é hora de ir ao palco. Encontro a Mara bem na hora de entrar. Ela sorri pra mim e o Gugu nos chama ao palco:
– Vem pra cá Mara Maravilha e o rapaz que mandou a cartinha! Você é fã da Mara?
– Sou, né? – Respondi meio impaciente.
– Então vamos ver se ele realizou com a Mara o seu Sonho Malucooo!
Passou o clipe do que gravamos. Eu olho pra Mara e ela olha pro vídeo. Acaba o quadro, respondo mais algumas perguntas idiotas e sou levado de volta ao camarim. Pego minhas coisas e já ia embora chateado, pois não me deram oportunidade de conversar a sós com a Mara e entregar o meu presente. Passo por um camarim com a porta aberta. Tinham deixado a Mara sozinha naquele camarim. Entro e fecho a porta. Vou logo falando:
– Oi, Mara. Não tivemos tempo de conversar.
– Oi, tudo bem? – Respondeu ela meio sem graça. Acho que ficou surpresa em me ver.
– Trouxe esse presente pra você – Tiro do bolso e entrego numa caixinha. É o meu primeiro dente de leite como pingente em um cordãozinho de ouro.
– Que nojo! Pra que eu quero seu dente? – Responde ela me devolvendo o presente.
Decepcionado e com o presente nas mãos, quando dou por mim estou em cima da Mara mordendo seu ombro. No momento seguinte estou cercado por seguranças, sendo levado à delegacia.
Presídio de Tremembé, 18 de julho de 1990.
Querida Mara. Te escrevo mais essa carta na tentativa de que me perdoe. Não queria te fazer mal e espero que esteja bem. Quero te ver assim que sair daqui. Acho que ainda vamos nos casar. É o meu sonho maluco.
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