Indo trabalhar na casa da Dona Hortência, em Rocha Miranda, dentro de um 639 lotado, as 7h33 da manhã, ouvindo Escravo da Sofrência, de Zé Neto e Cristiano, Mirtes, ainda sem saber que está grávida, não imagina que neste exato instante, dois espermatozoides discutem dentro do seu ventre:
– Você é um intrujão! Eu cheguei primeiro!
– Você deu bobeira, deixou uma frestazinha e entrei mesmo!
– Você é um intruso, um penetra, um folgado. Daqui algum tempo, vai ser o maior perrengue aqui dentro! Espera só pra ver!
– Que nada, vai ser ótimo, isso sim. Vamos ficar apertadinhos, exercitando o calor humano entre irmãos… Inclusive, podemos começar a nos entender agora mesmo. Se liga no som maneiro que a mamãe tá ouvindo…
– Horripilante! Detesto música de sofrência!
Mirtes nunca imaginaria que neste exato instante, enquanto o 639 chacoalha numa curva da Avenida dos Italianos, os dois espermatozoides empurram-se, disputando o território dentro do seu ventre.
Uma maravilha de texto que eu tive o prazer de ler no sarau de contos Aleatórios dia 15/08/23 .👏👏🥰