casa luz porta escura

Sempre estive aqui

(Baseado em fatos reais)

Tínhamos programado férias, era março de 83. Um dia antes da viagem, uma festa que a nossa presença seria imprescindível, mas já tínhamos combinado que eu ficaria em casa arrumando tudo de necessário para não faltar nada. Não gosto de ficar sozinho. Na ausência de Márcia, prefiro sair. Morávamos em uma casa grande. Ao abrir o portão, tinha pelo menos uns quinze lances de escada, ao término uma área gourmet que passava pela sala, que havia uma porta de correr e daria no quarto com banheiro (uma suíte bem arrumada). Véspera da viagem, acordo e não vejo Márcia. Acho estranho. Nunca se ausentava sem ao menos comunicar. Olho no relógio, 19hs. Me faço a pergunta, como dormi tanto? Fui ao caderno de telefone, que ficava na sala, procurei o número de Carmem, a anfitriã da festa. O telefone não dava linha. Queria saber de Márcia. Enfim, consegui ligar. Para minha surpresa, ninguém a conhecia. Fiquei na linha por quase meia hora e nada, só me restava aguardar. Estava meio angustiado, sozinho. Queria sair, mas Márcia poderia ligar a qualquer momento. Já passava das 21hs quando resolvi deitar. O silêncio me incomodava. Nossa cama ficava de frente pra escada, que estava a mais ou menos seis metros do quarto. Deitado na cama, meu olhar não saia da escada. Foi quando me levantei e fechei a porta. Foi assustador quando a luz começou a piscar sem nenhuma explicação. Cobri a cabeça de medo, tomei coragem, levantei e fui para a sala. Liguei a TV e ali fiquei. Já passavam das 23hs quando escuto o portão abrir. Ufa!!! Levanto, vou até a porta e não vejo ninguém. As luzes não paravam de piscar. Vou ao telefone, que só chama. Que noite! Tento manter a calma, preciso dormir. Retorno ao quarto e deixo a porta aberta. Olhar para a escada não me deixa dormir. Se fecho a porta, a luz não para de piscar. Márcia, cadê você?

Olho no relógio, 1h. O silêncio nesse momento é total, quando escuto a chave abrir o portão. Até que enfim, chamei:
– Márcia, Márcia?

O silêncio permanecia, apenas aqueles passos, degrau por degrau, subindo a escada. Eu só não entendia porque não tinha resposta. Mais uma vez em uma voz firme falei:
– Márcia, Márcia, é você?

A porta da sala se fecha. Naquele momento eu tinha certeza que Márcia não estava ali. Fechei os olhos, me cobri dos pés a cabeça e percebi quando a porta do quarto se abre. Fiquei ali sem me mover, com o suor eminente no rosto, pensando o que iria acontecer. Senti o colchão ao meu lado afundar, como se alguém naquele momento estivesse dividindo a cama comigo. Confesso que fiz de tudo para virar, mas não conseguia sequer mover um músculo. As luzes não paravam de piscar. Fiquei ali imóvel, esperando o dia clarear ou a Márcia chegar. Passado um tempo percebo que as luzes pararam de piscar. Levanto a coberta, olho para a janela, o dia está claro, mas não tenho coragem de levantar. Estico meu braço bem devagar em direção ao outro lado da cama. Para minha surpresa, não havia ninguém lá, mas o travesseiro e o lençol de Márcia estavam lá. Eles foram usados. Sentei pra refletir em tudo que aconteceu. É quando Márcia abre a porta do quarto com uma bandeja de café e diz:
– Pensei que não acordaria mais.

Muito confuso fiz a pergunta:
– Que horas você chegou?
– Da onde?

Fiquei confuso sem saber o que dizer. Fiz uma pergunta sem nexo pra saber minha situação:
– E o aniversário?
– É hoje. Estou adiantando algumas coisas pra não deixar tudo para você, tá?
– Obrigado, eu também vou!!!