Dia destes, no metrô, me surpreendeu a naturalidade de uma mulher, que a princípio, ia para o trabalho e entrou correndo no vagão em busca de um assento.
Pois bem, ela sentou. E a partir daí tudo começou. Pegou o estojo de maquiagem na nécessaire e como se estivesse em sua casa, de frente ao espelho começou a se maquiar. Passou um pó pelo rosto e com um pequeno pincel distribuiu uma sombra castanha nas pálpebras. Logo pude perceber seus olhos realçados, pois em seguida ela passava um lápis. Que destreza! O sacolejar do vagão não a tirava o prumo. As pessoas em volta, a maioria olhando para o celular, outras dormindo ainda, perderam essa transformação que se dava aos poucos, e tornou-se um particular jogo de sedução em minha cabeça. Eu não conseguia deixar de olhá-la.
Então, ela pegou um bastão e girando-o com os dedos erigiu um batom, o qual ela esfregou em seu lábio superior apertando este contra o lábio inferior, fazendo um biquinho, espalhando assim, o carmim desenhando sua boca carnuda.
Na estação seguinte, entraram uns passageiros que atrapalharam minha visão, mas ainda assim percebi (no meu delírio?), não tenho certeza, um movimento rápido em que nossos olhares se cruzaram quase imperceptivelmente, visto que no instante seguinte ela já soltava os cabelos que encostavam em suas espáduas. Como pode tanta sensualidade tão despretensiosamente?! Sabia de meu deleite?!
Aos poucos, ela foi guardando sua nécessaire, toda em delicadeza e ajeitou-se, empinando-se como se só neste momento tivesse chegado e sentado no banco. Cruzou as pernas. Os ombros retesados lhe realçavam o busto, também rijo. E em pleno metrô, a visão era do paraíso.
Mas, minha estação chegou, embora minha vontade fosse prosseguir viagem para saber seu destino.
Nunca mais iria vê-la, e então reconstituí quadro a quadro, desde sua chegada apressada para conseguir um lugar sentada. Na correria de sua vida, aquele era “o” momento que sobrava para se deixar nos padrões de apresentação exigidos no trabalho. E essa potencialidade é que a tornou mais atrativa e interessante, esse não estar nem aí, mesmo estando. E esse dom que é às mulheres, de forma geral, inerente, de não deixar a … peteca cair.
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