Aqui de cima da laje ninguém me vê, mas eu vejo tudo!!!
Vi essa rua de paralelepípedos com gramado e flores, um terreno enorme e vazio que mais parecia uma floresta com árvores e mistérios, casas coloridas com muros baixos, crianças brincando sob o olhar dos vizinhos que conversavam despreocupados em seus portões, alguns sentados em suas cadeiras, outros consertando bicicletas ou pintando as casas, adolescentes reunidos na esquina conversando baixinho e rindo alto, churrascos e festas que eram feitas ali mesmo, na rua. Essa rua parecia ter saído de uma tela de Abigail de Andrade.
Aqui de cima da laje ninguém me vê, mas eu vejo tudo!!
Vi as crianças e os adolescentes ficarem adultos, vi moradores partirem e novos chegarem.
Aqui de cima da laje ninguém me vê, mas eu vejo tudo!
Vi essa rua ficar esburacada e se tornar um canteiro de obras. O terreno vazio virar um enorme depósito de lixo. Casas sendo demolidas e muros sendo levantados. Lajes sendo construídas. Ruas sem crianças, porque elas brincam atrás dos muros ou nas lajes de suas casas. Aliás, são nelas que as pessoas fazem seus churrascos e festas. Na rua somente pessoas estranhas sentadas nas manilhas conversando enquanto fumam e sussurram. Moradores nos portões ou esquinas só para esperar parentes retornarem da escola, trabalho ou do mercado.
Aqui de cima da laje ninguém me vê, mas eu vejo tudo…
Vejo a rua asfaltada com calçadas altas. No terreno, um enorme condomínio fechado, que só é possível ver por dentro quando os portões se abrem para os carros passarem. Não tem crianças, não tem adolescentes, não tem pessoas andando. Somente carros, que entram e saem das garagens dos vários prédios de três a quatro andares. Todos fechados e mudos. A única casa com laje que restou foi essa, a casa assombrada por esse “fantasma” que não precisou assustar as pessoas para que elas sumissem dessa rua.
Aqui de cima da laje ninguém me vê e eu também não tenho mais nada pra ver…
…vou assistir novela.
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