“Eu bem que gostaria de mudar de ares. Sair um pouco da rotina. Conhecer outros espaços. Mas, francamente, sair de Portugal e retornar ao Brasil não estava nos meus planos.
Para o meu deslocamento, todo um cerimonial foi realizado. Fui recebido como chefe de Estado. Afinal, era o mínimo que eu merecia. Nunca viajei de avião e senti um mal-estar indescritível. Náusea.
Preferia ter ido ao Rio de Janeiro. Queria saber se o tempo foi generoso com a cidade. Época de arroubos juvenis. Naquela época, eu vivia intensamente. Saudades…
Mas, como não podia opinar, fui parar em Brasília. Não gostei. Não me inspirou confiança o olhar estagnado do presidente da nação.
Mal sabem que percebo tudo ao meu redor. O que mais me incomoda é a solidão… Fui retirado na flor da idade do peito de um homem apaixonado pela vida. A pedido dele. Um coração solitário há 187 anos. Fui colocado em uma mistura de formol, água e secretamente, algumas ervas trazidas por um dos médicos da família real que havia passado uma temporada no Egito.
Ninguém, em terra alguma, sabe o que sinto, nem o que sei. Era um dissabor voltar ao Brasil. Percebeu que com o tempo, algumas coisas mudaram, mas outras não. Quase nenhum avanço nesses quase duzentos…” Queda. Um dos guardiães desequilibrou-se com uma pequena casca de banana que a neta do almirante, distraidamente, havia deixado cair. A urna tombou, não quebrou. Mas o líquido precioso escorreu, levando consigo o segredo. O formol foi recolocado, mas o estrago já havia sido feito. Amanhã começaria a exposição. E o coração havia parado de sentir.
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