Vera gostava das coisas à vera. Orlando vivia enrolando e ela detestava isso, pois acreditava piamente que o certo era certo, o errado era errado e ponto final.
Orlando já era mais chegado nas reticências. Quando Vera vinha com interrogação, sempre tinha uma explicação, na qual nunca explicava nada. Chamava os dois pontos, abria aspas e começava a citar as coisas mais lindas. Primeiro, declamava com voz potente; depois, ia amaciando a fala; logo, logo, estava sussurrando ao pé do ouvido.
Não tinha jeito, Vera ficava toda arrepiada. Em pouco tempo já esquecia todo argumento lógico, o nexo causal e até a coesão textual. Era como se sua firmeza, da qual ela tanto se orgulhava, resolvesse abandoná-la nesses momentos e decidisse sair por aí a passear.
Arrancadas e retorcidas, as roupas eram atiradas ao chão, onde repousavam, em forma de vírgula. As proparoxítonas invadiam o quarto: hóspede estático de um êxtase dinâmico, ridículo, mágico e catártico. E tudo acabava na cama, em ponto de exclamação.
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