Raimundo morava no sertão onde quase não havia nuvens. No quintal de sua casa, brincava com os brinquedos que ele mesmo fabricava. E brincava de imaginar coisas, muitas coisas.
Guido morava bem distante do sertão. Ele pouco brincava. Sozinho, passava horas debruçado na janela, fitando o povoado e imaginando como seria morar lá. O que aquelas pessoas faziam? Como viviam?
Os irmãos de Raimundo tinham crescido e não brincavam mais. O menino brincava só. Corria feliz pelo quintal com seu carrinho de latas, rodava o peão e se equilibrava às gargalhadas sob as pernas de pau. Perto de sua casa quase não havia gente. Sob a vastidão de terra rachada, uma igrejinha, um barracão e a venda da Dona Tiana. Um pouco afastado, podia-se avistar o cajueiro que seus avós haviam plantado. Enorme!
Lá no povoado, o tempo quase que andava pra trás, mas Raimundo nem se importava. Ele queria brincar, e, se tivesse um amigo, tanto melhor. Esse era o pedido que o menino fazia aos domingos, durante a missa do padre Nonato:
– Painho, quero por demais ter um amigo pra brincar.
Então, um dia, Raimundo sentiu uns pingos d´água caírem do céu. Mas como poderia chover se não havia nuvens naquela imensidão azul? Plim! Plim! Plim! Plim! Os pingos gotejaram no mesmo lugar e formaram uma poça:
– Vixi! De onde é que vem essa água? – pensou intrigado.
Olhou pro céu procurando alguma nuvem, e nada. Os pingos continuaram a cair e a poça foi alargando. O menino coçou a cabeça, fitou o cajueiro e pensou:
– Só há um jeito d´eu descobrir. Ele estava certo de que conseguiria chegar ao céu e aclarar de onde vinha aquele aguaceiro.
Raimundo era um menino destemido e subiu o gigantesco cajueiro sem medo. Subiu, e subiu, e subiu…QUE SURPRESA! Havia uma casa lá no céu. Contudo, não era uma casa qualquer. Era tudo tão grande quanto aquela árvore. Quem será que mora aqui? Ele chamou uma vez, até duas:
– Ô, de casa? – Mas ninguém respondeu. Abismado, pediu licença e foi entrando. Tudo era enorme!
O menino parecia uma formiga e demorou a percorrer toda a casa até chegar ao pátio. Ali, encontrou muitas meias penduradas sobre os arbustos e, encharcadas d´água. Todas enormes e engraçadas. Seu espanto cresceu na mesma proporção:
– Eita! Então essa é a água que está pingando lá no meu quintal?! – exclamou atônito.
Enquanto ainda falava, Guido apareceu. Os meninos se assustaram enormemente! Um tão pequenino, o outro, gigante. Mas correr não era o caso. Riram-se da surpresa e do espanto, mas logo começaram a brincar. Criança é criança, lá no céu ou lá no sertão.
Guido mostrou para Raimundo os brinquedos que ele fabricava e os que inventava. Os carrinhos de gravetos, os bichos de pano e o cata-vento de folhas coloridas. Apesar de serem aparentemente tão diferentes, Guido também gostava de brincar e imaginar coisas, muitas coisas.
Os meninos estavam felizes por terem encontrado um ao outro. E brincaram juntos até o sol raiar.
Deixe uma resposta