Há uns anos, meu marido foi contratado para trabalhar em uma loja de produtos para animais, que sei lá porque cargas d’água, todo mundo começou a chamar de uma hora para outra de petshop. O tal estabelecimento era localizado no centro da cidadezinha em que morávamos e chamava atenção por tudo que tinha lá para os donos de animais mais abastados da região. Nessa loja, pessoas podiam deixar filhotes abandonados, em situação de risco, para doação. Os donos da loja recolhiam os bichinhos e colocavam em uma espécie de gaiola grande, com água e comida, e esperavam alguém adotar os animais.
Um dia, era vinte de novembro, meu marido disse que algo incomum aconteceu. Um senhor, meio afobado, largou para adoção quatro filhotes de cães da raça labrador. Ele estranhou pois, a maioria dos cãezinhos que chegavam até a loja eram “vira-latas”. Os donos da loja disseram para o senhor deixar os bichinhos lá que, com certeza, sendo de raça, seriam adotados bem rápido. Então, meu marido pegou a caixa em que estavam, abriu e botou duas filhotinhas pretas, uma fêmea e um macho caramelo na gaiola. Em questão de dez minutos o macho e a fêmea caramelo já haviam sido adotados. Passaram-se horas e as pretinhas nada de conseguir um novo lar. Alguns até se interessavam, mas sempre vinha a pergunta: “É fêmea?”. Com a resposta afirmativa, saiam dizendo que voltariam depois para buscar, mas não voltavam.
Faltavam uns vinte minutos para fechar a loja e meu marido disse que ele e um colega de trabalho decidiram ficar um com cada cachorrinha. Estava nítido que, embora fossem de raça, não foram adotadas porque eram fêmeas de cor preta, o que para os dois, e para mim também, diga-se de passagem, configurou-se uma espécie de racismo animal, se é que isso pode existir.
Meu marido trouxe a cachorrinha para me dar de presente, pois sabia que eu me apaixonaria por ela. Trouxe a bichinha em uma caixa de papelão. Quando abriu, uma labradora, preta da cabeça ao rabinho, saiu correndo pelo meio da sala, cheirando tudo e fazendo uma festa com a minha filha pequena, que começava a aprender a falar. Ela corria com a cachorrinha e dizia: “Mamãe, olha a “petinha”, como ela corre!”
A nova integrante da família, que eu tinha pensado em chamar de Dandara por razões históricas, já estava oficialmente batizada e, liberta, corria com a minha filha pelo quintal de casa.
Adotar é tudo de bom.!!! Amei