A banda se desfez em 1970. Eu era praticamente recém-nascido. Tinha apenas três anos, nada mais. O poeta disse:” the dream is over” e quem gostava se sentiu só e abandonado.
Em 1977, aos dez anos, ouvi pela primeira vez o som maravilhoso que faziam e me apaixonei. Foi arrebatador, uma música envolvente e de qualidade; Não entendia o que falavam. Era uma língua estranha e mágica. Os instrumentos me levavam a outro lugar que – à época – não saiba descrever e, de certa forma me transportavam para algum lugar que não podia descrever. Não havia internet, videoclipes, ou qualquer outra forma de ver, traduzir ou de alguma forma saber quem fazia aquele som maravilhoso, mágico. Aos dez anos eu não sabia inglês, muito mal falava o português. A música ficou em minha mente, na minha cabeça. Permeou meu universo por muitos anos até que consegui uma tradução de confiança.
Era uma rua, uma rua simplória em Liverpool, em que havia uma barbearia onde o barbeiro colecionava fotos dos cabelos que cortava. As pessoas se cumprimentavam e havia um posto de bombeiros em que um de seus soldados vivia a polir e cuidar de seu carro de trabalho, além de uma bela enfermeira que vendia papoulas como se estivesse brincando. E estava mesmo
Convido os leitores a ouvir tal canção e vou além: Ouçam e digam que não conseguem se encantar.
No refrão, Paul McCartney – a música, como todas as músicas da banda é assinada pela dupla Lennon/McCartney, embora nem sempre seja verdade. Neste caso a obra é de Paul, quem conhece a banda conhece também seu toque, seu modo de compor – Ele diz que a rua, Penny Lane, está em seus ouvidos e olhos, abaixo de um céu azul e suburbano, onde senta e sempre volta (Penny Lane is in my ears and in my eyes, there beneath the blue suburban skies I sit and meanwhile back – em tradução livre). A frase: um céu suburbano, a meu ver é de um achado muito literário e peculiar, pois o céu está em todo lugar. Pode ser suburbano ou de zona sul, leste ou oeste, mas Paul conseguiu localizar um céu diferente e… suburbano.
Não sei dizer se Paul tem memórias afetivas vividas nesta rua – deve ter, claro – todavia ouvindo a canção somos transportados a ela. Arrisco dizer que, na audição, viajo para aquele momento que ele descreveu, onde tento experimentar a emoção que aquela rua lhe transmitiu e possibilitou compor tão bela obra.
Este fã, desde sempre, vem juntando uns trocados na vã tentativa de deixar suas pegadas em Penny Lane e, se sobrar uns trocados – se não sobrar não tem problema vou a pé mesmo – ir à Londres fazer uma foto em outra rua, uma esquina, em que os “fab four” passaram na faixa de pedestres, inclusive com Paul descalço e que virou capa de disco: Abbey Road.
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