Na escola, durante o intervalo, o jovem Antônio observava a imagem no livro de Artes. O Lavrador de Café, de Cândido Portinari. Ficou pensando no olhar distante daquele homem negro, retirado de sua terra contra a sua vontade e escravizado no Brasil.
Tum-tum-tum. O coração parecia sair do peito. Pés descalços desviavam de raízes e troncos naquela noite escura. Quando o corpo teimava em desistir, lembrava o que o esperava se voltasse para a fazenda. A mata era um labirinto e a promessa de um recomeço.
Antônio indagava se ele teria sido separado de sua família. Parecia que tinha saudade de casa. Não sabia o porquê, mas o olhar daquele homem o fazia lembrar do avô Justino, um homem sempre sério. Seu coração é que sorria. No dia seguinte, seu avô receberia uma homenagem da prefeitura pelas décadas de trabalho ensinando capoeira às novas gerações. Quem em Valença não conhecia Mestre Justino? E ele seguiria os passos do pai e do avô.
Foi com um golpe certeiro, armada, que Quirino se livrou de Tobias, um dos funcionários da fazenda de café, deixando-o desacordado. Sua arma eram seus braços e pernas que desde pequeno aprendera com os mais velhos na senzala. Os filhos de meus filhos serão livres, pensava. E a esperança criava raízes em seu coração.
Será que seu bisavô teria sido um lavrador de café como aquele homem da imagem, buscando a liberdade? – pensava Antônio. Histórias que não eram contadas nos livros mas que foram vividas e hoje resistem no legado de seus descendentes. Assim como Antônio e seu tataravô Quirino.
“Oiá, oiá
Foge o negro sinhá (…)
Paranauê, paranauê Paraná.”
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