menino triste futebol campo bola

Papai, mamãe foi embora

17 de agosto de 1978. Enfim, minha mãe cumpriu sua promessa e nos abandonou. Confesso que estranhei o fato de naquele dia ela estar mais tranquila comigo. Enquanto arrumava meu irmão para levá-lo a escola, insistia para eu sair.
– Vai jogar bola!
Percebendo sua irritação fui para um campo de futebol próximo de casa, hoje a Vila Olímpica de Nilópolis. Lembro que fiquei cerca de trinta minutos. Assim que cheguei em casa notei a ausência de alguns itens que ficavam na sala. Fui para o quarto e constatei que as roupas de minha mãe e irmão haviam sumido. O armário estava vazio.
Fiquei sem chão. Tinha apenas onze anos de idade. Fiquei apavorado e sem saber o que dizer para meu pai. Então resolvi seguir para minha madrinha em Anchieta, bairro próximo de onde morava. Deixei um bilhete avisando sobre o acontecido: PAI, MAMÃE FOI EMBORA.
Estou na tia Carmem.
A partir desse dia, meu pai entrou numa tristeza profunda. Descobrimos que minha mãe o estava traindo há muito tempo com um comerciante, vizinho da minha avó. Papai nunca conseguiu se reerguer e infelizmente faleceu aos 59 anos de idade, em 1998.
Cresci com muito ódio da minha mãe e cheguei a escrever dois livros onde conto alguns detalhes sobre o tema. Falar sobre TRAIÇÃO aqui na reunião dos ALEATÓRIOS não é expor meu pai, muito menos minha mãe. É que a narrativa faz parte da minha missão de vida, que é compartilhar e ajudar famílias que passam por situações semelhantes.
Mas o processo não foi tão simples assim. O episódio me transformou num homem resiliente nos negócios e projetos profissionais, porém,  vitimizado, confuso e fragilizado nas relações afetivas. Aquela TRAIÇÃO não foi apenas ao meu pai. Aquele menino de onze anos mergulhou num processo de rejeição, abandono e descrédito na “instituição casamento”.
Ao longo de minha existência, tive três uniões estáveis,  que me concederam quatro filhos. Em todos eles, eu já entrava na defensiva.
-Será que vai me trair também?
Minha estratégia era acusar. Com isso, conseguia destruir a relação, antes de ser traído. Em 2018, decidi iniciar conversas com uma psicóloga, doutora Simone Portes. Foi uma decisão inteligente, que me fez enxergar o mundo de uma ótica diferente. Sem dúvidas, um divisor de águas. Em minhas palestras costumo falar abertamente sobre questões que me causaram dores e sofrimentos e, consequentemente, na vida de outras pessoas (ex-companheiras, filhos e amizades).
Quando decidir terminar uma história (TRAIR), verifique se isso vai afetar outras pessoas. Aquilo que para você é um “ponto e vírgula”, pode ser PONTO FINAL na existência de outros.